sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A negação não é um caminho. Aceita e avança!


O meu percurso como professora fez-me evoluir como pessoa e, de algum modo, preparou-me antecipadamente para o embate da minha vida. 
As experiências vividas com os meus alunos ensinaram-me que o seu desenvolvimento depende muito dos estímulos que recebem, da motivação que lhes é incutida e do reconhecimento das próprias dificuldades de modo a aceitarem ajuda. No entanto, se conseguia pequenos avanços com os miúdos, muitas vezes estes seriam esbatidos pela negação dos pais e acreditem no que vos digo: nós, pais, somos o maior obstáculo ao desenvolvimento das nossas crias e eu, apesar de sabê-lo, viria a sentir em cada poro da minha pele o que custa aceitar que uma das nossas crias tem um problema de saúde comprometedor do seu futuro.
No período em que se manifestou no meu filho aquela a que chamo de sua epilepsia, senti-me revoltada com Deus, com a vida. "Porquê o meu filho? Por que não eu?" Ele era um inocente e nada fizera para merecê-lo. Se fosse castigo, que Deus me castigasse a mim, a mim! Quando me encontrava só discutia com Deus, perguntava-lhe o porquê e acabava suplicando por ajuda que me dispunha a pagar com a minha vida. Dei murros nas paredes e gritei bem alto que o meu filho não merecia tal castigo. O tempo foi passando e, entre uma melhor compreensão da epilepsia e a diminuição do número de crises diárias, percebi que cada lágrima derramada era um desperdício de energia que deveria ser canalizada para o bem-estar do meu filho. Começou então um longo processo de aceitação.
Esta aceitação foi enraizando-se no meu interior e, com o tempo, permitiu-me vislumbrar a construção de um caminho para o meu filho. Nunca procurei a ajuda de psicólogos ou outros profissionais para organizar a minha sanidade mental, nunca precisei pois a minha maior ajuda era falar do problema do meu filho. Nunca sufoquei o que sentia no meu interior e as palavras têm um poder enorme, acreditem! Cada palavra, cada frase dita, gravava-se na minha mente a fogo e deixava a sua marca. Por muito que tentasse apagá-la, inconscientemente, a sua cicatriz permanecia intocável e mantinha-me os pés no chão, bem consciente da minha realidade. 
Nunca escondi a epilepsia do Diogo. Pelo contrário, explicava como se manifestava e como proceder perante uma crise. Expunha os meus sentimentos e alimentava a esperança de um dia ver o pesadelo terminado. Com o auxílio da Dr.ª Manuela, procurávamos combater as dificuldades que o Diogo ia manifestando, atacando-as sempre com a ajuda de profissionais dedicados e competentes. Pesquisávamos imenso pois elaborávamos sempre um plano B ou C caso o plano A falhasse. Tínhamos sempre alternativas. A tomada de decisões também não foi pacífica ou irreflectida, muitas vezes parecia-me que "brincávamos" com a vida daquele inocente... mas a vida prosseguia. 
Nunca privámos o Diogo das brincadeiras, das festinhas de aniversário dos colegas, dos passeios, da ida à piscina. Nunca o privámos de absolutamente nada. É verdade que, cada vez que o deixava na casa de um amiguinho ou numa festa algures, sentia um aperto angustiante no peito e desejava que o tempo passasse rapidamente. Tinha sempre o telemóvel por perto, no caso de me telefonarem se algo corresse mal, mas nunca tocou. Apesar do sofrimento, prefiro ser eu a passar pelo tormento do que cortar as asas ao meu filho, impossibilitando-o de voar.
Hoje sabemos que tudo o que fizemos foi o melhor que estava ao nosso alcance. O Diogo é uma criança que tem uma vida perfeitamente normal e faz o que as crianças devem fazer - brincar e sonhar.