domingo, 22 de novembro de 2015

Um milagre, todos os dias...



A vida é demasiado preciosa para ser vivida com ressentimentos e lamúrias. A vida é para ser apreciada e valorizada... vivida intensamente como se não houvesse um amanhã. Eu tento fazê-lo e não me arrependo. Por vezes posso parecer exausta mas sou feliz pois faço o que gosto e me dá mais prazer - ensinar - e testemunho o crescimento e felicidade dos meus filhos. 
Há uns dias, na hora do almoço, conheci uma colega, professora de educação especial, que me abriu os olhos para algo que já vinha a sentir há algum tempo. Falámos dos miúdos da escola, das suas dificuldades, do caminho que se deverá seguir na educação e de como educar nos nossos dias. Partilhámos um pouco das nossas experiências e enriquecemo-nos mutuamente, sem dúvida. Escusado será dizer que um dos muitos temas foi o Diogo e as necessidades educativas especiais... dele e muitos mais.
Foi interessante perceber que há quem partilhe a minha posição perante este tema que me é tão familiar. O que deve ser assegurado, para além do bem estar das crianças, é a capacidade de se tornarem jovens e adultos autónomos. Não adianta nada tentarmos protegê-los, escondendo as suas dificuldades. O importante é dotá-los de capacidades e competências para enfrentarem a vida! Eu já senti na pele - e continuo a sentir - o que custa trilhar este caminho mas podem crer que, apesar de penoso, é o verdadeiro caminho da busca pela felicidade dos nossos filhos. 
Como já disse, a meio deste caminho zanguei-me com Deus. Zanguei-me porque pedi muito um milagre para o meu filho e nunca esse pedido me foi concedido. Pedi quando o meu pequeno fazia cinquenta a sessenta crises diárias, pedi quando sentia que ficava sem forças, pedi nas cirurgias... pedi muito mas nunca tive resposta. A certa altura fiz o que fazem as crianças - amuei! As palavras começaram a soar-me ocas, sem qualquer significado, então deixei de rezar. Quando falava com Deus era quase para recriminá-Lo. Por vezes, sentia-me ensandecer e, por isso, pedia-Lhe satisfações. 
O tempo foi passando, o Diogo foi crescendo e as nossas vidas tomaram um rumo que é marcado pela felicidade do nosso filho. Sempre que é visto por médicos especialistas, que lêem a sua história clínica, somos questionados se temos consciência de que o desenvolvimento do Diogo não se enquadra minimamente no que seria esperado. Sim, sabemos! Para tal lutamos diariamente, para que o nosso filho se desenvolva normalmente e tenha tudo aquilo a que tem direito. Não queremos que seja um menino protegido e sem defesas para o que a vida lhe poderá reservar. Queremos dotá-lo de capacidades para saber proteger-se, para poder lutar pelo que quer, para conquistar e partilhar... para ser ele e não ser aquilo que deveria supostamente ser.
"Não acredito em milagres..." - disse eu à minha colega, já não me lembro porquê. Ela olhou para mim, sorriu e respondeu-me - "Tens o milagre à tua frente, todos os dias!"