segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Esperança renovada



O que mais desejo na minha vida? Ser feliz!... 
Sou afortunada pela família linda que tenho e que me apoia incondicionalmente,... sou feliz porque tenho um companheiro e amigo ao meu lado - que atura o meu mau feitio - e não me deixa desmoronar nos piores momentos,... sou feliz porque tenho dois filhos lindos que são o sol da minha vida,... sou feliz pois possuo as mais ternas recordações daqueles que já partiram e comigo deixaram os seus mais preciosos valores sobre a família e a Vida,... sou feliz pois sou capaz de alcançar crianças e jovens com os quais partilho o meu bichinho pelas ciências e relembram-me todos os dias como gosto de ensinar,... sou feliz pois tenho amigos verdadeiros - do coração - que estão sempre presentes mesmo quando distantes... 
O que poderei pedir mais? Pedir um milagre para o meu filho se também esse já me foi concedido, apesar da minha cegueira e teimosia não me permitirem vislumbrá-lo?... Fiz as pazes com o meu Deus... fiz as pazes comigo. 
Estou serena mas consciente de que ainda tenho muitos embates dolorosos para enfrentar e, como não sou derrotista, seguirei o caminho que me permitir construir a felicidade dos meus filhos. Lutarei ao lado deles pelas suas conquistas, não conquistarei por eles - ensiná-los-ei a conquistar! Dar-lhes-ei segurança para poderem fazê-lo, não darei arrogância para se sobrestimarem pois a humildade é um dos mais preciosos valores que herdei dos meus avós e pretendo transmiti-lo aos meus filhos como se de um tesouro se tratasse. 

Nesta passagem de ano que se aproxima, renovo a minha esperança num mundo melhor...
Renovo energias para novas batalhas...
Renovo o meu acreditar num Deus misericordioso e que nunca me abandonou...
Renovo o meu amor pela minha família...
Renovo o meu coração que se encontrava despedaçado...
Renovo o desejo de concretizar os meus mais preciosos projetos - a felicidade dos meus filhos!

E a vós desejo toda a felicidade do mundo...




quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A magia do Natal


O Natal é mágico!... A minha meninice foi muito feliz e a minha família transmitiu-me sempre os valores da família, da solidariedade e compaixão. Nunca foi uma quadra em que fomentaram o consumismo - o dar era generoso e significava partilhar, os embrulhos eram revestidos de amor e os laçarotes representavam os laços que nos uniam.
Recordo-me do Natal no palacete que nos acolheu quando chegámos de Angola, a terra que nos vira crescer. O pinheiro era adornado e colocado ao lado da lareira que crispava à medida que o fogo consumia a lenha e eu, pequena mas a mais velha dos netos, partilhava com meu irmão e os meus primos a ansiedade da chegada do Pai Natal. A família reunia-se, o som das conversas e o riso dos mais velhos enchia de calor aquela sala e nós - os pequenos - perguntávamos se aquela figura grande e barbuda ainda estaria muito longe da nossa casa.
Pouco faltava para a meia noite e o meu avô Armando levava-nos a dar uma volta pelas ruas de Fafe - "Talvez o encontremos pelo caminho..." - mas nunca nos cruzávamos com o barrigudo. Regressávamos ao palacete e os nossos corações pulavam de alegria - "O Pai Natal já passou!!" - gritávamos em uníssono. Chegara a altura de rasgar os embrulhos e descobrir as surpresas que escondiam. 
Depois crescemos mas a magia continua. Os papeis são protagonizados por outros, os nossos filhos, e o Pai Natal tem nome - Filipe, o meu marido. Ainda a minha prima Aida era pequena e o Pai Natal já era protagonizado pelo futuro membro desta família. Já não vivemos no palacete há muito tempo mas o sentimento de partilha, de estar em família e fazer as delícias dos pequenos permanece. Não estamos todos... o meu avô Armando, a minha avó Aida e a minha tia Teresa já não se encontram entre nós mas são sempre recordados, não só neste dia mas todos os dias das nossas vidas. A nostalgia apodera-se daqueles que com eles cresceram e a sua lembrança é transmitida aos mais pequenos. Relembram-se histórias, partilham-se momentos e damos risadas em sua memória. Fazem-nos tanta falta!
Depois da reunião à mesa, perto da meia noite, chega a hora do Filipe ir dar uma volta. Sobe e no quarto veste a personagem de Pai Natal... quando está pronto, dá um sinal e desce pelo elevador - sinal dos tempos modernos - dizendo bem alto "Oh, Oh, Oooh!". Instala-se o caos, miúdos e graúdos ficam eufóricos e esperamos ansiosamente a abertura da porta. "Chegou, chegou!" - gritam os meus filhos e o ritual repete-se. Não faço questão de quebrar o encanto da noite, quando descobrirem, descobriram. Esta tradição é mantida na nossa família desde sempre e pretendo que os meus filhos a vivam tão intensamente quanto eu vivi. 

Para todos vós que me acompanham e partilham a minha história, enriquecendo-a...
Para todos que cruzaram os seus caminhos com o meu e deixaram a sua marca...
Para todos que fazem parte do meu baú de doces recordações..
Para aqueles que me seguem, lado a lado, na caminhada pela busca da felicidade...

Um Santo Natal!


domingo, 20 de dezembro de 2015

A sequela é descoberta



Há dois anos, por esta altura, entrava em desespero. O Diogo tinha sido operado em setembro, pela segunda vez, e não tinha sofrido nenhuma das sequelas previstas - perda da visão do lado direito, da fala ou perda de mobilidade, apesar de reversível. As crises não cessaram mas manifestavam-se muito mais espaçadas no tempo, cerca de uma a duas crises por mês. Finalmente o meu filho tinha algum descanso e eu também. Mas este descanso era muito superficial e frágil. 
A descoberta da sequela sofrida foi feita no decorrer do primeiro período e confirmada no seu término. O Diogo perdera os pré requisitos da leitura: reconhecia as letras mas estava impossibilitado de juntar os sons, por outras palavras, perdera a consciência fonológica.
Esta notícia foi confirmada pela professora do meu filho e pela terapeuta da fala que o acompanhava desde o início. Aguentei o embate da notícia mas quando me afastei, entrei em desespero. Para adiar o momento em que me encontraria só, em casa, e sabia de antemão que seria penoso, parei no café com esperança de organizar as ideias mas encontrei a Susana. Como já me conhece desde sempre e eu sou transparente, questionou-me e eu desatei num pranto. As lágrimas escorreram-me pelo rosto, contra a minha vontade, e eu mal conseguia falar. Acabei por contar-lhe o que me atormentava a alma.
Mais uma vez, tive que interiorizar uma informação dolorosa que fazia parte do meu processo de aceitação. Mais uma vez, mexiam na ferida e, mais uma vez, tinha que curá-la. Mais uma vez, questionei se o consentimento para a cirurgia fora o mais correto e o melhor para o meu filho. Mais uma vez, questionei o meu Deus...
O futuro do meu filho tornara-se uma incerteza maior. O que fazer para inverter esta sequela que tornaria o seu futuro completamente desconhecido? Falei com a Dr.ª Manuela. Tínhamos que continuar a estimular o Diogo. As reconexões neurológicas seriam novamente estabelecidas mas "o quando" era uma incógnita. Segundo estudos feitos, estas reconexões poderiam demorar anos.
O Natal desse mesmo ano, e estávamos em 2013, foi celebrado com um coração destroçado, impotente, mas com alguma esperança em encontrar uma solução. Já avançara com a terapia da fala, hipoterapia e apoio extra escola, dado pela Armanda, uma grande amiga da família. 
O Diogo, por esta altura, repudiava-me, deixara de me suportar pois eu tornara-me inseparável dele. Como ainda não tinha escola, fazia tudo com ele, de manhã à noite. Eu também não estava a conseguir lidar bem com esta nova situação... acabei por encontrar a solução, penosa mas era uma solução. Em fevereiro de 2014 surgiu um horário em Sintra, mais concretamente em Massamá. A terra não me era desconhecida pois era onde vivia a Manuela, sogra do meu primo Nuno. Falei com o Filipe, com a minha mãe, com o Nuno e, depois de todos me apoiarem nesta decisão, concorri ao horário. Fui colocada.
Por essa altura escrevia o seguinte à Dr.ª Manuela:

Boa noite Dr.ª Manuela.
Já não lhe dava notícias há algum tempo. Como já soube pelo meu marido, estou a dar aulas em Massamá - Lisboa. Era isso ou o desemprego e centenas de colegas a passarem-me à frente, logo o adeus ao ensino. É doloroso, principalmente porque estou afastada dos meus filhos e nunca estive longe deles. Por um lado, penso que vai fazer bem ao Diogo pois ele estava saturado da mãe. Eu andava constantemente com ele para todo o lado, sei que ele vai apreciar esta liberdade e ligar-se a mim de modo diferente. Ele também precisava de espaço. Por outro lado, como estava desempregada, sentia a cada dia que passava uma angústia crescente devido às dificuldades do Diogo na escola. Não havia um segundo em que não pensasse no seu futuro incerto e não me apercebia das suas conquistas, pequenas para uns mas enormes para ele. Se me dói esta distância também é certo que me ajuda a ver as coisas com uma outra perspectiva e a organizar melhor as ideias, dá para entender?(...)


Agora sei que foi o melhor para todos nós! A distância permitiu-me organizar a minha sanidade, ver o problema de outro modo. O Diogo sentiu a minha falta e compreendeu que a mãe só queria o seu bem. Aprendi que afastarmo-nos na altura certa não significa fugir, ao contrário, permite-nos tomar outra consciência dos problemas e encontrar respostas para os mesmos.