quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

As iludências aparudem...


Nunca vivi de ilusões... apesar de ser estreante num clube restrito de mães com crianças que não vêm descritas nos livros, senti imediatamente necessidade de falar sobre a epilepsia do meu filho e suas condicionantes. A minha vontade era de gritar pois sentia-me angustiada e impotente. Sentia que, apesar de rodeada por muitos que me apoiavam, estava só - era uma ilha no meio da multidão. 
A epilepsia é uma doença neurológica sobre a qual poucos falam e muitos têm pouca vontade de falar. Os que sofrem dela não a mencionam ou tentam esquecê-la... poucos são aqueles que a assumem devido ao preconceito - este é o maior inimigo do meu filho e não a sua epilepsia. 
Apercebi-me da existência deste monstro quando regressei à escola, após o internamento do Diogo no Maria Pia. Foi quando alguns me confidenciaram que também tinham epilepsia mas "estava controlada... já não tenho crises!". Os meus sensores de perigo foram logo alertados e pensei - "Patrícia, estás a entrar em terreno com areias movediças!". 
Não me calei desde então... o meu coração sentia-se apaziguado e, na minha mente, gravava a informação que tão penosa era de assimilar. Ao proceder desta forma contribuía com informação que julgava ser suficiente para afastar o preconceito do meu filho e da sua epilepsia. Por tempos fui bem sucedida...
Depois da segunda cirurgia, o Diogo começou a frequentar o primeiro ano do ensino básico. A escola nova, os colegas e as professoras eram uma novidade na vida do rapaz. Já o uso diário e contínuo do capacete - que usava para proteger a cabeça - era um velho hábito adquirido numa primeira ronda por terras de mouros. Foi então que me deparei novamente com o preconceito. 
As crianças questionavam os pais, os pais questionavam-me - "Desculpe a pergunta mas o meu filho quer saber por que razão o seu menino usa um capacete" - e eu respondia sem problema e com naturalidade às interrogações que me faziam. Certo dia, fiquei sem palavras quando uma mãe viu o Diogo sem capacete e, arregalando os olhos com uma expressão de absoluta incredulidade, proferiu a frase que me fez tremer - "Nunca pensei que o seu filho fosse um menino tão bonito!". 
Pois, o meu filho era diferente, o meu filho era o capacete... a criança fora anulada por um acessório! Senti o meu coração a rasgar-se, senti um aperto no peito e um amor ainda maior pela minha cria. Já no carro e a caminho de casa gritei - "Sim, o meu filho é LINDO, o meu filho é MARAVILHOSO!".
Escondido pelo capacete estava um anjo... uma criança com um coração enorme capaz de oferecer o seu carrinho preferido a um colega, que chorava por outro lhe ter batido, com esperança de fazê-lo feliz... uma criança que me ensinou a amar em toda a plenitude do seu significado... uma criança que me faz acreditar que todos somos capazes... que todos podemos ser melhores.
Acredito que o restrito clube a que dizia pertencer se está a alargar e todas nós, mães de crianças maravilhosas, temos um papel a desempenhar. Acredito que, pela partilha das nossas experiências, podemos começar a mudar mentalidades, despertar consciências... acredito que existem pessoas boas... acredito na construção de um mundo melhor!