sábado, 13 de fevereiro de 2016

Errar é humano... e não só!



Feliz o ignorante, feliz aquele que sai de casa, todos os dias, sem imaginar o que lhe poderá estar destinado daí a umas horas, talvez dias ou sabe-se lá quando. Coitado daquele que vive aprisionado a uma angústia que atormenta a alma e se torna prisão dos melhores sentimentos que o comum mortal pode ansiar. Eu encontro-me no meio, a fazer equilibrismo, numa corda bamba, que teimo manter quietinha de modo a não cair no abismo. 
Sou curiosa e, por isso, sei demais, mais do que deveria pois não é da minha competência saber o que sei... depois de assimilar o conhecimento rezo para apagá-lo, passar uma borracha e tirá-lo do meu pensamento mas a assimilação é muito rápida tornando-se, por isso, inevitável esquecer. Assim sendo, guardo a informação numa gaveta do meu cérebro, mantenho-me consciente da sua existência e assim tenho vivido e evoluído.
Sempre ouvi dizer que "errar é humano" mas, apesar de concordar, tenho que acrescentar que errar é natural - a natureza erra - e nós somos também o fruto de erros ocasionais, uns mais do que outros. Se analisarmos atentamente a natureza do ser humano, podemos identificar muitos erros: erros que conduziram, por vezes, a humanidade à obscuridade mas que abriram portas para um melhor conhecimento da nossa espécie e para períodos mais humanistas. E eu questiono-me, muitas vezes, se não estaremos presentemente a atingir uma bifurcação ou algo que esteja a catapultar, mais uma vez, a espécie humana para um salto evolutivo... sei que o meu raciocínio parece incoerente e inconsistente mas tem a sua razão de ser.
Quando olho à minha volta vejo tecnologia, tecnologia e mais tecnologia: aquela tecnologia que nos permite desenvolver o nosso trabalho mais rapidamente; aquela tecnologia que nos permite chegar a lugares distantes, estando sentados apenas à frente de um computador; tecnologia que nos permite desenvolver curas para determinadas doenças e proporcionar qualidade de vida a pessoas que nunca pensariam, noutros tempos, fazer metade daquilo que fazem nos dias de hoje. Vejo também a outra tecnologia que nos mantém reféns e cada vez mais solitários, aquela tecnologia que está a desumanizar-nos, a embrutecer-nos, a tornar-nos incapazes de estabelecer relações in vivo. Cabe a cada um de nós usar toda esta tecnologia da melhor forma e dela obter o melhor. 
Devaneio à parte, chego aonde queria... o cerne da questão: mais uma vez os erros da natureza para compensar uma evolução distorcida e cumulativamente embrutecedora. Os nossos erros são humanos - logo imperfeitos na minha perspetiva - mas os erros da natureza, para além de serem aleatórios, são necessários e corretores. Confusos? Ainda bem...
Pois bem, o que vejo a acontecer à minha volta e neste pequeno mundo que é o meu? Vejo o número de crianças, vítimas de doenças avassaladoras, a aumentar; vejo as suas mães a usarem todos os meios disponíveis para partilhar as suas experiências dolorosas e, por outro lado, vejo miúdos e graúdos a perderem sensibilidade pela dor alheia e a serem os primeiros a terem prazer em infligi-la a terceiros... O que mais vejo são seres pensantes a errar, vezes sem conta, e a caírem num precipício sem fundo. Como vejo isto? Porque ocorreu um erro que atingiu a minha vida e permitiu-me ter uma outra perspectiva sobre o que me rodeia - uma mutação completamente aleatória que escolheu o meu Diogo. Não foi um erro meu, foi um erro da natureza. 
Tal como o meu filho, muitos outros estão a ser brindados com estes erros naturais e a contribuir, de um modo doloroso para alguns, com as excepções à regra quando a regra é termos crianças que não conseguem distinguir o bem do mal, que são insensíveis e se fortalecem com a dor, a humilhação que provocam nos seus pares,... crianças que querem, podem e mandam. 
Pois este erro da natureza deu-me um presente, um filho amoroso que todos os dias diz que me ama e que sou a sua melhor amiga. Um filho que me ensinou a viver e a amar a vida tal como ela se apresenta, com mais ou menos obstáculos. Um filho que me lembra que todos os dias devem ser vividos intensamente e que o mundo dos afetos é mais importante do que tudo o resto. 
Em tempos visivelmente conturbados, socialmente e distorcidos de sentimentos, são crianças como o meu filho que corrigem os erros cometidos pelo Homem e nos lembram que podemos ser melhores. Estas crianças são mensageiras do amor e são as janelas para um futuro melhor, mais solidário e compreensivo. Eu mantenho a esperança na construção de um futuro melhor e na correção harmoniosa dos erros causados pelo Homem e a sua tecnologia. Eu mantenho-me convicta de que estes erros da natureza são um sinal da mudança de consciências e um impulso para que a evolução da nossa espécie volte ao percurso natural. Vá lá... estarei assim tão errada?









domingo, 7 de fevereiro de 2016

8 de fevereiro - Dia Internacional da Epilepsia


Existe uma efeméride que não me é indiferente e que se comemora na segunda-feira, da segunda semana de fevereiro - o Dia Internacional da Epilepsia - e é tão fácil de se adivinhar a razão...
Vivo com a epilepsia diariamente há cerca de oito anos e, como se diz, primeiro estranha-se e depois entranha-se. No início foi um autêntico pesadelo! Com o tempo, as rotinas ajustaram-se, o convívio diário com a epilepsia tornou-se familiar e seguimos todos em frente.
Desde então aprendi a valorizar as pequenas conquistas do meu filho, todas feitas por ele e ao seu ritmo. O processo de aceitação instalou-se e, degrau a degrau, temos avançado - sempre com o bem-estar do nosso filho como prioridade. A cada embate seguem-se novas aprendizagens, a descoberta de novos horizontes... e a consciência de vivermos numa sociedade cada vez mais castradora, desigual e preconceituosa.
Na verdade, a epilepsia é muito mais do que ter crises... a epilepsia implica muito mais do que podemos imaginar. A epilepsia, como a do meu filho, é para toda a vida! Exige muito dele mas também de todos aqueles que o rodeiam: exige que tenhamos capacidade para nos reestruturarmos como família pois as relações são brutalmente minadas pelo sentimento de impotência; exige um processo de aceitação infindável e muito doloroso; exige um processo de desformatação que se torna a base de um novo entendimento do ser, distinto daquele que apreendemos desde cedo; exige que sejamos capazes de aprender com as dificuldades e ajustemos os nossos sonhos à dura realidade; exige uma capacidade de adaptação quase sobre humana quando aquele que amamos não corresponde aos parâmetros de perfeição exigidos pela sociedade; exige uma luta constante contra o preconceito e a desigualdade... muito? Não, exige tudo de nós!
Oito anos passaram e, apesar de muito se ter feito, muito mais há ainda por fazer. Muitos obstáculos têm sido ultrapassados e o nosso Diogo recebeu parte das ferramentas que permitir-lhe-ão construir o seu caminho. É uma criança amorosa, justa e amiga - com um coração de ouro que cativa aqueles que trabalham com ele. É uma criança com consciência das suas dificuldades, possuidor de uma humildade que lhe permite aceitar ajuda para melhorar e sabedor de que, apesar de tudo, não é inferior a ninguém, por isso, não gosta de ser tratado de modo diferente. 
A diferença reside na mentalidade dos outros - não no meu filho - ele é autêntico e feliz! A sua epilepsia anda de mãos dadas connosco e tornou-se nossa companheira de viagem... sendo assim, comemoremos o seu dia - o Dia Internacional da Epilepsia!