Em véspera de passagem de mais um ano,
questionei-me inúmeras vezes sobre a razão de celebrarmos esta transição tão
intensamente, se afinal só muda um número e as nossas vidas seguem o seu
rumo.
Ao longo do dia, recordei-me de
passagens tristes, pela ausência de alguém querido que já partira, mas também
por sentir-me angustiada pelo desconhecido que se tornara o meu futuro e o do
meu filho.
Recordei-me particularmente de 2008. A
epilepsia do Diogo manifestara-se em maio e ainda aprendíamos a viver com
aquela que nos acompanha desde então. Tive a perceção da proximidade do abismo
tal como o sentira na altura. À meia noite em ponto, depois da contagem
decrescente para o novo ano, sentia os olhos a encherem-se de lágrimas que desesperadamente
tentava conter, mas sem sucesso. Teimavam resvalar-me pela face, contra minha
vontade e não consegui esconder a ninguém a dor que me atormentava a alma.
Interroguei-me então sobre a importância
desta noite em que as reações são exacerbadas, os sorrisos e as lágrimas
manifestam-se intensamente e com mais facilidade, como se o amanhã não
existisse e os tivéssemos de gastar naquele momento. Porquê? Talvez porque
tenhamos esperança que a mudança do número, a entrada de um novo ano, seja uma
nova oportunidade para mudarmos, para melhorarmos, uma oportunidade para apagar
o que nos magoou e podermos seguir um novo caminho.
Recordei a mesma noite quando fui
adolescente - as motivações e sonhos que desenhava e sarrabiscava secretamente
num diário. Reconheço que este regresso ao passado foi uma experiência que marcou
o dia de hoje.
Entre muitas recordações, lembrei-me de
pessoas que admirava pela vida de doação aos pobres e mais necessitados, como a
Madre Teresa de Calcutá, aqueles que lutavam contra o preconceito e pelos
direitos das crianças e, ainda, aqueles que se manifestavam contra a crueldade
praticada contra os animais e a natureza, colocando as suas vidas em risco –
homens e mulheres da Fundação Greenpeace.
Lembrei de me ter passado pela cabeça ser
freira…, mas foi uma ideia que desapareceu tão depressa como surgiu, pois, já
nessa altura, gostava muito de falar e um dos meus maiores sonhos era ser mãe.
Admirava a minha avó Aida pois era uma excelente contadora de histórias – que sempre
me inspiraram – e admirava a minha mãe pela sua dedicação aos filhos e pela sua
resiliência.
Encontrei muito de mim nestas recordações.
Sou eu pois tenho uma família que
estima os seus valores, transmitindo-os de geração em geração. Encontrei as
minhas origens e a minha força.
Cresci e evoluí muito desde então. O
presente que vivo não foi um futuro sonhado por mim, mas o caminho que tenho
percorrido fez de mim uma pessoa melhor e encontrei a felicidade quando tudo no
meu mundo parecia desmoronar. A minha vida tem sido uma constante descoberta em
mim e os sonhos são uma constante na minha vida. O meu mundo é de afetos e o impossível não existe.
Para o ano de 2018 não espero nada de
especial. Prometo sim, a mim, ser fiel a mim mesma e ao que sinto. Prometo dar
mais de mim e não me desiludir. Prometo estimar o meu mundo dos afetos. Prometo
descobrir novos caminhos e partilhá-los com quem me quer bem. Prometo continuar
a ser feliz nesta aventura chamada Vida.
Assim sendo, venha lá mais um ano! E sejam
felizes!