quarta-feira, 8 de março de 2017

A descoberta em mim


Frequentemente, recorro à introspeção, sobretudo quando necessito de consolidar aprendizagens, reforçar os meus alicerces e descobrir um pouco mais sobre mim. Ao longo dos últimos anos, tendo passado por experiências que me desafiaram sempre a ultrapassar limites que julgava meus, descobri que estes não existem, o inatingível é um exagero e o impossível deixou de ser usado no meu vocabulário. Voltei-me, então, mais para mim. Apesar de ter a noção de quem sou, questiono-me, cada vez mais, para onde vou. 
Tenho pensado muito e devo reconhecer que, afinal, não me conheço tão bem quanto julgava. Tenho passado por um período de ebulição intrínseca. 
- Se pudesses resumir a tua vida num desenho, o que farias? - perguntou-me a Bárbara há alguns dias. E eu respondi, prontamente - Um ponto de interrogação!
A Bárbara é minha amiga de infância, de adolescência, do coração, da vida. Partilhámos, no passado, experiências que recordamos sempre que nos reencontramos: verdadeiras histórias de investigação criminal, desde contrabando imaginário a casas abandonadas e assombradas, na Granja,... incursões pseudocientíficas aos pântanos que ladearam, em tempos, a escola que frequentávamos,... transladação de rãs entre pântanos vizinhos,... mergulhos e patinagem nos seus lamaçais,... viagens hilariantes, à boleia, para Guimarães, cidade nossa vizinha, onde aumentávamos o nosso conhecimento em matemática e química. Enfim, éramos jovens e tínhamos o mundo pela frente. Quis o destino que nos separássemos mas, como a Bárbara diria - "Podes tirar a gaja de Fafe, mas não tiras Fafe da gaja!"
Existem amizades que são para sempre, mesmo quando não falamos ou não nos vemos durante meses, muitas vezes, anos. A amizade da Bárbara é uma amizade assim. Apesar de distante, mantém-se sempre presente e, ultimamente, mais do que presente - em completa sintonia. A nossa amizade inspirou-me a aprofundar a introspeção para um nível diferente e, apesar de sabê-lo, não o reconhecia - a minha autoestima estava, aliás, está muito baixa. 
Passei os últimos anos completamente focada no meu filho e na sua epilepsia. As suas necessidades, as suas dificuldades e os obstáculos com que se deparava, tornaram-se o meu principal foco e canalizei todas as minhas energias para a sua orientação e superação. Esqueci-me de MIM! Deixei de cuidar de MIM! Esqueci que sou MULHER! Esqueci que sou BONITA! Não acontece apenas comigo. Na realidade, acontece com muitas mulheres e mães como eu... um quase total esquecimento do nosso eu e, subitamente, convertemo-nos em fantasmas - verdadeiras assombrações - que deambulam entre aqueles sonhos suspensos que o tempo decidiu não deixar concretizar.
Não posso continuar assim,... não quero continuar a ser uma mera assombração do meu eu! E o meu click aconteceu! Lentamente, passo a passo, recupero a minha identidade e tenho uma certeza - quero mais, muito mais desta vida!