sábado, 2 de dezembro de 2017

Sensibilidade e bom senso


Os meus filhos são o meu mundo! Já os amava quando, em plena adolescência, elaborava listas de nomes para aqueles que seriam o meu mais do que tudo. Amo-os, agora, ainda mais!
Luto diariamente para dotar os meus filhos de ferramentas para que possam trilhar os seus caminhos com determinação, espírito crítico, responsabilidade, respeito e solidariedade para com os outros. Incuto à minha prole a beleza existente na diferença, transmito-lhes valores que herdei e ensino-os a superarem as suas frustrações. Não desejei filhos perfeitos e não trocaria, por nada, as suas arestas ainda por limar. 
Não é fácil criar uma criança nos nossos dias perante uma sociedade elitista, competitiva e cruel. Como professora tenho visto um pouco de tudo e o que mais me assusta é a falta de empenho para com alunos com necessidades educativas especiais (NEE). Serão filhos de um Deus menor? 
Ao longo destes anos - e não são poucos - tive sempre alunos especiais que contribuíram para a minha evolução como profissional mas, sobretudo, fizeram de mim uma pessoa melhor. Nunca olhei para eles como uma "carga de trabalhos" e dediquei-me sempre de modo a serem bem sucedidos nas suas aquisições e aprendizagens. Não é um trabalho fácil nem reconhecido por ninguém, senão pelos próprios, salvo algumas exceções...
Muitos alunos deixam-se levar pelo facilitismo e não possuem motivação para se empenharem no processo de ensino/aprendizagem. Tornam-se apáticos e escudam-se no estatuto de NEE, confiando que a transição de ano é-lhes garantida. Recordo-me de, há uns anos, ter um aluno que era da minha direção de turma e que assinava apenas os testes. Dizia - "Não se preocupe comigo, professora! O ano passado também tinha negativas a todas as disciplinas e acabei por passar". Cometeu um erro pois o seu desinvestimento declarado foi sentenciador da sua retenção. Esta retenção nunca me pesou na consciência pois, apesar da sua apatia, como professora fiz tudo o que estava ao meu alcance para tentar reverter a sua sentença anunciada. Recentemente tive também uma aluna com NEE que me informou que lhe deveria dar as soluções dos testes pois tinha muitas dificuldades e era a recomendação do psicólogo que a acompanhava - mentira! Em quase dezanove anos na educação não tive mais alunos que se fizessem valer das necessidades educativas especiais. São alunos deste gabarito, com encarregados de educação coniventes, que dão mau nome à educação especial, que não deve ser para todos mas para aqueles que realmente precisam. 
Nos últimos anos, temos vindo a presenciar um aumento invulgar e algo escandaloso no número de alunos com NEE e questiono-me se esses números serão verdadeiros. Estou no direito de duvidar pois também sei que quando um aluno demonstra dificuldades acrescidas nas aprendizagens é muito mais fácil sinalizá-lo e passar a batata quente para outros, facilitando o seu percurso escolar. Desenvolvem-se PEIs e CEIs e abre-se o caminho para o faz de conta. Passei anos a desenvolver estratégias que conduzissem os meus alunos especiais ao sucesso, nem sempre com resultados positivos mas valorizando, sempre, as estratégias bem sucedidas e menosprezando aquelas que em nada contribuíam para a sua evolução. Nunca alinhei no jogo do faz de conta
Sou grata por ter tido alunos especiais que me ensinaram mais do que uma licenciatura e me prepararam para o maior desafio da minha vida. Sou grata por ter colegas que cruzaram o caminho do meu filho e fizeram por ele mais do que lhes era solicitado. Vestiram a camisola pelo meu Diogo e, contra ventos e marés, ajudaram-no a alcançar vitórias imensas que mudaram o rumo da sua vida. Sou grata à professora Paula que, durante três anos, acarinhou o Diogo e lidou com a perda da consciência fonológica desde o início, nunca desistindo da sua recuperação e sempre com os pés bem assentes em terra. Sou grata à professora Alda, de educação especial, que se envolveu de corpo e alma na recuperação do meu filhote e partilhou comigo as frustrações e as vitórias alcançadas pelo rapaz. Agradeço à professora Anabela que se dedicou apaixonadamente à aprendizagem da leitura pelo Diogo e o acarinhou nos maus e bons momentos. Sou grata à professora Fátima que apoiou e apoia o meu rapaz pacientemente. Sou grata às terapeutas que trabalharam e continuam a trabalhar as dificuldades existentes, contribuindo nos bastidores para o seu sucesso. Sou grata à professora Sónia que concretizou a verdadeira integração/inclusão do Diogo e fê-lo acreditar nas suas capacidades, alcançando resultados nunca antes imaginados.
Ninguém consegue, sequer, imaginar o trabalho, empenho, determinação e dedicação deste grupo de professoras que cruzou os seus caminhos com o do meu filho! Bem hajam por contrariarem a corrente do facilitismo e do faz de conta! Prometo que não permitirei que nada, nem ninguém, destrua o vosso trabalho! 

"Ser professor, SABER SER PROFESSOR... é ser eterno aluno da vida e do amor... é limpar as lágrimas e dar voz à dor alheia e ficar longe quando a vida manda abraçar o futuro."

Autor desconhecido

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