domingo, 31 de dezembro de 2023

Renascer é o meu destino


Cada um com as suas crenças … e eu com as minhas. Todos os anos, nesta mesma altura, é hábito fazer uma retrospetiva do que experimentei durante mais uma volta em torno do Sol. 

Todos os anos celebro a família maravilhosa que está sempre comigo, perto ou longe. uns mais presentes, outros distantes, mas todos sempre comigo. Celebro os meus amigos, alguns ganhei pelas diferentes escolas por onde já passei, outros cruzaram o meu caminho em alturas de aprendizagem e, cada um à sua maneira, contribuiu para o meu desenvolvimento e, claro, tenho aqueles amigos que me acompanharam pela vida, desde os tempos de criança até aos dias de hoje. Com eles partilhei brincadeiras inocentes como a exploração de casas abandonadas e misteriosas, jogos de polícias e ladrões e conversas nos walkie talkies, capazes de endoidecer os moradores do Bairro da Granja. As quedas em pântanos temporários e a descoberta da sua fauna e flora que culminava com os ralhetes das funcionárias do bloco onde tínhamos aulas … coitadas! O trabalho inglório de varrer a lama seca que transportávamos nas botas para a sala de aula. Adolescência é também a altura dos amores platónicos, do início da curiosidade pelo desconhecido e muito mais! E digo-vos, tenho o privilégio de ter partilhado tudo, isto e muito mais, com os MELHORES! Os MEUS amigos! Aqueles que me têm acompanhado, aqueles que estão comigo nos bons e menos bons momentos, aqueles que oferecem o ombro e nos ouvem ou nos chamam à razão. Aqueles que se alegram com a tua felicidade e te amparam na tristeza, também aqueles que podem ser autênticas pragas, mas que continuam aqui por ti e por todos nós. Os vossos também serão bons amigos, não duvido, mas não há amigos como os meus!

O renascimento é uma constante no meu caminho pois todos os anos têm sido transformadores para este escorpião errante. Já vagueei, sem rumo, perdida inúmeras vezes do meu propósito, mas, de cada vez que me perdi também soube reencontrar-me e cada vez mais forte. Esta foi uma das descobertas mais significativas e que me acompanha desde então - nesta vida podemos renascer vezes sem fim. Sempre defendi que o impossível não existe, mas a grande diferença encontrei-a entre o dizer e o fazer. Sim, eu sou capaz! Sim, tenho o futuro nas minhas mãos! Sim, eu consigo!

Aprendi, ao longo do tempo, que a mudança não é assustadora, mas necessária para avançarmos. Não é imediata nem visível, faz-se ao ritmo de cada um, de dentro para fora e é profundamente enriquecedora. Se pararmos no tempo, arriscamos a perder o norte e a não nos encontrarmos mais, mas eu reencontrei a minha criança interior, dei-lhe espaço e permiti-me partilhar a aventura desta vida. É impressionante como tudo flui naturalmente quando nos valorizamos e nos permitimos descobrir o desconhecido.

Também sei que é impossível agradar a todos - quem gosta de mim fá-lo desinteressadamente, não me julga nem pede nada em troca. Aprendi que a felicidade depende só de nós e nem sempre será também a felicidade de outros. Acredito que cada um de nós tem a sua missão por cumprir e eu procuro concretizar a minha. De encruzilhada em encruzilhada, descubro um pouco mais de mim, capacito-me e sigo o meu caminho, sempre com os MEUS ao meu lado, aqui ou na eternidade, todos contribuem para a minha felicidade.

 

Para 2024 desejo que cada um de vós siga o seu caminho sem grandes pedras, …
que se faça luz nas vossas vidas mesmo quando os dias parecerem mais cinzentos, …
que mimem os que estão convosco e tenham força para seguirem sem os ausentes. 

Para 2024 quero ter tempo para mim e para os meus, tempo para apreciar a vida e continuar a renascer as vezes necessárias, pois a cada saída de um casulo surge uma nova e bonita borboleta.

Que as estrelas brilhem para além da escuridão, sejam felizes!


sexta-feira, 23 de julho de 2021

Meu querido filho, meu amor maior...



Parabéns pelos teus quinze anos, meu querido filho, meu amor maior! O que poderei desejar-te para além de todas as possibilidades que irão surgir ao longo da tua vida? 
Pudesse ser mágica e transformar os momentos menos bons, por que já passaste, em doces recordações. Pudesse fazer ilusionismo e desaparecer com o preconceito e as mentalidades "pequeninas" que se manifestam na nossa sociedade e que, ao contrário do que se diz, são ainda dominantes. Pudesse ser trapezista e ensinar-te a manter o equilíbrio entre sonhar e ter os pés assentes na terra para que as tuas espectativas sejam correspondidas. Ai, meu filho!... Como gostava de poder proteger-te para sempre das amarguras da Vida, mas não é essa a minha missão. 
Em tempos disseram-me que são os filhos que escolhem os pais e eu acreditei. Temos feito uma longa e árdua caminhada, sempre de mãos entrelaçadas e com um sorriso no rosto. Tens ultrapassado obstáculos ao teu ritmo, com muita resiliência e sempre rodeado de todos aqueles que te amam. Sou uma privilegiada por ser "a escolhida" pois vivencio o significado de amor incondicional e sou uma aprendiza feliz nesta jornada em que te acompanho.
Meu amor, sei que nem sempre me sinto capaz de fazer este caminho. Por vezes as forças parecem abandonar-nos e cada passo dado tem um peso maior. Sei que o teu futuro é já amanhã e este pensamento assusta-me. Se olho para trás, sinto que o tempo passou muito depressa e não consegui gozar todos os momentos da tua existência. Contudo, sei que seria incapaz de amar-te mais pois o meu coração transborda este sentimento tão doce que carrego desde o dia em que nasceste.
Tornaste-te o meu "mestre" na Vida, com o teu sorriso e abraço apertado. Contigo vou sempre além, meu filho amoroso! 
És o meu Sol, és a minha Lua e as estrelas que brilham no meio da escuridão. E eu amar-te-ei pela eternidade!




segunda-feira, 5 de julho de 2021

Perdida de mim...




Sim. Sinto-me perdida. Presa numa inércia que me magoa a alma e numa tristeza que antecipa um futuro novamente incerto e pouco nítido. Sim, estou cansada! Cansada de viver na corda bamba. Cansada de querer e não poder. Cansada de ser  forte para os outros e tão fraca para mim! Cansada de me fazer de forte quando o que realmente desejo é que me mimem também e tirem o peso que carrego no meu coração. 
Quero fugir de mim, deambular ao sabor das recordações doces e apagar as tormentas que já me assolaram. As feridas não cicatrizam e o tempo não volta atrás. O amor tudo pode mas não é de ferro. E quanto maior a sua devoção, mais insustentável se torna a impotência de amar em pleno e incondicionalmente. O que nos resta quando perdemos a capacidade de fazer bem a quem queremos bem, de dar o nosso melhor e receamos fracassar?
Não importa o que já tenha vivido se o ponto em que me encontro não me permite avançar. Já o disse e repito: esqueci quem fui e não reconheço quem sou. Estou farta de me sentir assim! Está na hora de avivar a memória... verbalizar o que me atormenta pois tomo uma consciência diferente de mim e do que sinto. Se perdi algo pelo caminho? Muito! Mas posso conquistar outro tanto. Baixar os braços? Não me parece... Primeiro passo, equilibrar a minha energia e orientá-la para aquela que já fui e voltarei a reerguer. Vontade, fé e foco! Tu queres, tu podes, tu consegues! 
Porra! 

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Trancada a sete chaves



Parece que o tempo parou mas, na realidade, fui eu que estagnei. Apesar de ter aprendido muito sobre mim e sobre os outros, sinto-me sem reação perante o que se passa à minha volta. Quase como um espectador silencioso ou mero observador. 
Ao longo do ano que passou tenho visto um lado meu bastante obscuro que preferia manter trancado, algures num porão perdido da minha existência. Como tal não é possível, partilho convosco algumas das minhas sombras.
Este período de desconfinamento deu-me a oportunidade de reconhecer uma grande perda emocional e pessoal. Transformei-me numa couraça rígida e impenetrável, onde escondo os meus sentimentos, faço os meus monólogos e sinto só uma profunda nostalgia daquela que fui um dia. Sinto-me mais pobre apesar de continuar a somar experiências e aprendizagens. Sinto-me à deriva, apesar de saber onde fica o meu Norte e saber como lá voltar, mas sem energia para fazê-lo.
Sinto-me distante e fria. Sinto fingir ser quem fui e que perdi o fogo interior que me aquecia e guiava nos melhores e piores momentos da minha vida. Habituei-me ao silêncio e tornei-me sua companheira. Talvez estas palavras sejam um primeiro passo para reacender a centelha que sempre iluminou a minha existência. Talvez nasça a vontade de sair desta escuridão a que me rendi. Talvez este silêncio seja mais uma caminhada com um propósito. 
Apetece-me reagir mas acomodei-me ao silêncio e inércia interiores. Assim, passo o tempo, descobrindo o que esqueci e o que quero recuperar, de modo a sentir-me novamente viva e não uma assombração daquela que já fui. Talvez o amanhã seja outro dia, mas um pouco melhor.


 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Um 2021 cheio de Sol


Mais um dia a menos para o Ano Novo. Que seja melhor do que este que finda! Um ano muito estranho para mim… Nem sei que diga. Li diversas mensagens e não me identifico com a maioria. O ano que está quase a terminar não me acrescentou nada de bom, essa é a minha verdade. 
A transição para 2020 foi em luto com a perda do meu sogro e, em pouco mais de um mês, do bisavô do meu marido. Foi uma passagem triste com o sentimento profundo da ausência daqueles que nos são queridos. Logo depois, início de 2020, as ausências convertem-se em afastamento e o afastamento em confinamento. Uma sucessão de acontecimentos que nos encurralou e restringiu às nossas casas e nos afastou da manifestação de afetos mais calorosa e poderosa que conheço - os abraços.
As aulas passaram a ser dadas online, através de diferentes plataformas, e as aprendizagens tornaram-se insípidas. Apesar do afastamento físico, senti-me mais próxima dos meus alunos e na hora da despedida senti-me incompleta… Custou-me não me despedir deles com um abraço, um sorriso… Custou-me dizer-lhes "Sejam felizes!" e não poder partilhar essa felicidade no momento. Senti-me incompleta por não ter estado presente.
As férias foram desejadas como nunca! Quem me conhece, sabe que sou pouco de sair mas este ano foi um tormento para mim. Entrei em contagem decrescente muito antes de me ser possível mudar de ares e quando chegou o dia respirei, profundamente, a pseudo liberdade que podia usufruir. 
Mudei de escola. Despedi-me, sem o ter feito verdadeiramente, daqueles que partilharam comigo uma fase difícil que julguei superada. Trouxe amizades que estimo muito, pessoas de corações imensos, parceiros de uma jornada que me enriqueceu e permitiu conhecer-me melhor. Muitas pessoas que sei que me querem bem! 
Fui bem recebida na escola nova, apesar do afastamento que nos é imposto por este maldito vírus. Sinto que era hora de mudar, de seguir outro rumo e conhecer pessoas diferentes. Sinto que sigo o meu caminho e que voltarei a deixar a minha marca. Sou colecionadora de afetos e já acrescentei muitos, nos últimos meses, às páginas mais recentes da minha história e recordações.
Assim sendo, nada me foi somado em 2020. Pelo contrário, continuo a ser colecionadora de afetos e a fazer o que mais gosto - ensinar. Continuo a poder ter na minha vida aqueles que mais amo e sentir a sua presença. Continuo a luta pela felicidade dos meus filhos e a sua realização. Mas perdi a liberdade da manifestação física que tanto aprecio. Perdi a liberdade de abraçar, de beijar, de brincar através do toque. Ficaram despedidas por realizar, comemorações por fazer… Ficaram afetos suspensos no tempo por não se selarem com abraços. 
Este ano de 2020 foi um ano triste, apesar dos momentos felizes que me foram ofertados, como acontece todos os anos. Por isso, não pretendo esquecer 2020... 
O que desejo para 2021 é poder voltar a abraçar-vos! 
Que as chamas sejam revigoradas nos nossos corações!
Que o Sol volte a iluminar e a aquecer as nossas vidas pois estou farta desta escuridão!
Grata por vos ter na minha vida!

Desejo-vos um oceano de felicidade!




quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O Silêncio

Assim como existe o ruído, também existe o silêncio e é este o meu preferido. É no silêncio que procuro as respostas às minhas dúvidas, é nele que tento encontrar justificação para o que a vida me dá. São estes períodos de introspeção que me conduzem a novas aprendizagens - e têm sido tantas! - e à compreensão e interiorização do caminho que tenho de percorrer.
Foi no silêncio que vislumbrei o meu mundo e o modo como interage com muitos outros, cada um com as suas especificidades. Neste meu mundo reúno as minhas vivências, as minhas recordações, quem me fez crescer, quem cruzou o seu caminho com o meu, por uma razão maior ou menor. Reúno quem me quer bem, quem me motiva e quem me desafia mas não esqueço quem me desilude ou magoa. Existe uma imensidão de significados no meu mundo que vou mantendo a preto e branco, se forem desagradáveis, ou dou-lhes cor se forem bons. Se o silêncio me faz evoluir também, por outro lado, pode e costuma magoar-me. Tento evitar a dor mas é esta que mais me faz crescer na minha essência, no interior do meu ser.
Foi em silêncio que aprendi que a minha perspetiva sobre um determinado acontecimento é minha e diferente da perspetiva de qualquer outra pessoa que tenha vivenciado o mesmo acontecimento. Cada um de nós é único, reflexo das suas crenças, das suas vivências, das suas recordações, das imagens que preserva consigo e que gravou ao longo do filme da sua vida. 
Foi em silêncio que aprendi que quanto mais penso em algo que me magoa, mais penoso e doloroso se torna o meu caminho. Assim, com muita prática e persistência, desvio a minha atenção. Foco-me em algo que me distraia e relaxe de modo a que, mais tarde e com menos pressão, consiga encontrar soluções. Há quem me questione, que me critique, pensando que serei insensível ou que não me preocupo. Muitos são os que me consideram forte, outros achar-me-ão fria. Lá está... depende da perspetiva de cada um. Apenas desvio o meu foco pois, não tendo uma solução imediata, estarei apenas a amplificá-lo e a fazer da minha vida um inferno.
Foi no silêncio que aprendi que não tenho limites, para mim o impossível não existe. O que quero, consigo! É uma questão de tempo e perseverança. Os obstáculos surgiram desde sempre no meu caminho mas, passo a passo, dia a dia, sigo na direção que me conduzirá ao ponto a que pretendo chegar. Estes são os meus litlle baby steps...
Não sou materialista. Sou colecionadora de afetos! São estes que me dão alegria em viver e são estes que fazem de mim quem sou. A minha vida seria vazia sem afetos, seria a preto e branco, perderia o seu sentido. E são estes afetos que me permitem afastar más energias, maus pensamentos, maus momentos. Não sou forte como julgam. Tenho dias bons e dias maus, como qualquer um, mas foi no silêncio que aprendi a lutar pelo que amo, pelos meus e pelos que me querem bem.
O meu silêncio pode ser como um túmulo para muitos mas é um mundo para mim - onde me deleito com a liberdade de me redescobrir - pois foi também no silêncio que aprendi ser possível renascer várias vezes nesta vida.


quarta-feira, 20 de maio de 2020

Sem perdão


Os meus momentos de introspeção tornam-se mais frequentes quando algo provoca turbulência na minha tranquilidade aparente. Ao contrário do que muitos pensam, não sou calma. Sei que aparento sê-lo mas, se fosse possível sentirem o turbilhão de pensamentos e de sensações que experimento no interior do meu ser quando, de repente, sinto algo que me repugna, possivelmente sentir-se-iam tão agoniados quanto eu. É assim que me sinto e quanto mais intensa é essa sensação, mais fechada me torno. 
Sentimos ser contra-natura um filho morrer antes dos seus progenitores, mas acontece. Às vezes a ordem que conhecemos altera-se e, por muito que nos custe, vamos aceitando. Outra inversão, deste acontecimento que marca o fim precoce de uma vida, é morrer-se pelas mãos de um progenitor. Reviram-se-me as entranhas! E recuso-me a entender tamanho ato monstruoso! Não con-si-go! 
Volto a fechar-me e questiono a razão de um ser inofensivo, e com tão pouca experiência nesta Vida, ver negada e interrompida, de modo abrupto, a sua passagem por esta Terra. Não veremos a sua luz e ela não verá o que podia ter sido. Um desperdício de humanidade...
Encaro a minha passagem por cá como tal, apenas uma passagem. Reconheço que já limei as arestas a alguns defeitos meus mas possuo outros que me farão companhia até o Além, mais uma vez. Não será nesta vida que conseguirei aprender tudo o que gostaria de aprender. Tenho feito os meus "trabalhos de casa" mas não conseguirei concluí-los na totalidade. 
Existem aprendizagens extremamente difíceis e a que mais me transtorna é a capacidade de perdoar. Tenho a certeza que poucos possuem esta virtude e eu não me encontro entre eles. Se pudesse ter um super poder seria esse - saber perdoar - mas possuo este diamante bruto por lapidar. 
Certo dia disseram-me que quem não perdoa, vive entorpecido pelo veneno. Os momentos de raiva sucedem-se e mesmo que sintamos alguma tranquilidade passageira nas nossas vidas, é só mesmo isso, passageira. Podem passar dias, semanas, meses, até anos,... esquecemos essa mágoa que carregamos ao peito mas ela está lá. Basta uma palavra, uma memória inofensiva, aquele clique que a desperte pois continuas a transportá-la dentro de ti, naquele cantinho escondido e minúsculo, nas profundezas do teu ser, do teu coração. Corações magoados não se curam facilmente. São como uma peça rara que se parte e que tentamos colar, pedacinho por pedacinho, com a esperança de reconstruir a delicadeza perdida. Mas a mágoa é um veneno, queima a alma de quem a carrega. Assombra a existência delicada e atormentada de quem sofre em silêncio. Quem não perdoa morre do próprio veneno. Definha com o tempo.
E eu perderia a minha racionalidade. E viveria atormentada pela perda de um filho, enclausurada num passado que me apresentaria à loucura, sem qualquer perdão!