sábado, 24 de setembro de 2016

De professora a aprendiz


Passou mais um ano. Mais um ano e a minha desformatação continua. Tenho aprendido tanto... Quando olho para o caminho percorrido sinto-me assolada por uma sensação que não consigo explicar. Os sentimentos são confusos... como descrever um amor infinito, uma ferida que persiste em abrir, um desejo de atingir o que nos parece impossível e uma vontade imensa de ver o futuro antecipadamente? Como descrever o receio de falhar com os meus filhos? 
O Diogo e a Laura são o sol na minha vida. Acredito que o destino me presenteou com duas crianças que me desafiam constantemente, duas crianças que testam os meus limites e fazem de mim uma pessoa melhor. Os meus filhos transformaram a professora num aprendiz! 
Não sigo receitas ou livros - a sua aplicabilidade não traria felicidade nem para mim, nem para as minhas crianças. Os meus filhos proporcionam-me uma série de descobertas e sucessivas aventuras no reino da maternidade. Estou sempre a aprender com eles e deixo que o meu coração e a minha razão me guiem neste papel de mãe. Não é um exercício fácil mas tenho conseguido manter o equilíbrio necessário para orientá-los e tomar decisões importantes para as suas vidas.
Há uns meses, um pouco antes do período das matrículas, senti que o tempo não pára e as nossas vidas seguem o rumo que é suposto ser percorrido. A evolução do Diogo e a recuperação da consciência fonológica - sequela herdada na segunda cirurgia de epilepsia - têm sido conquistas suas e feitas ao seu ritmo mas, tal como acredito que algo nos está destinado, também acredito que não devemos ser meros observadores, apesar de sermos simples personagens secundárias na história de luta e superação do nosso filho. O Diogo tem um caminho a percorrer mas nós temos os nossos papéis secundários a desempenhar. Não podemos assistir, impávidos e serenos, o desenrolar da sua história. Pois bem, na possibilidade de termos diferentes caminhos para atingir um determinado objetivo, não deveremos trilhar aquele que se adeqúe às nossas capacidades e características, permitindo-nos alcançar o objetivo por nós próprios, sem sermos levados ao colo ou apanhar boleia de outros? Sendo assim, a transição do Diogo para o terceiro ano implicou mudanças e novas estratégias.
Aconselhei-me com a Dr.ª Manuela - neuropediatra do rapaz - e com todos aqueles que trabalhavam as dificuldades do meu filho. Partilhei, inclusive, as minhas dúvidas com a Margarida, professora de educação especial e minha colega na escola. O resultado determinou uma conversa difícil com o Diogo que teria como tópico único explicar a separação dos seus colegas de turma e da professora que o acompanhara desde o primeiro ano. A primeira reação foi negativa - "Não, mãe! Eu não quero mudar de turma!" - Ponto final. Mesmo assim, matriculei o meu filho no terceiro ano, numa turma de terceiro ano. Os coleguinhas seguiram para o quarto ano e mudaram de escola. O cordão umbilical do Diogo foi cortado pela segunda vez.
A Laurinha entrou para o primeiro ano e matriculei-a na mesma escola frequentada pelo irmão. A minha preocupação inicial incidiu na relação deles naquele espaço. Preparei os meus filhos, durante as férias de verão, e expliquei que cada um teria os seus amigos, as suas brincadeiras e não deveriam procurar o outro nos intervalos. Cada um seria responsável por si mesmo! É engraçado pois, logo no dia de apresentação, diferentes funcionárias diziam " Agora o Diogo vai tomar conta da Laurinha!". Não, eu não quero que os meus filhos andem atrelados! Cada um terá o seu espaço e, por isso, a sua história pois criamos os nossos filhos para serem independentes e autónomos. 
Estamos na segunda semana de aulas e sinto-me feliz pela decisão que tomei. No segundo dia de aulas, o Diogo confidenciou-me " Mãe, pela primeira vez, sei o que é ser feliz na escola."