domingo, 30 de julho de 2017

O meu mundo entre muitos - II



Apesar de ser meu e só meu, o meu mundo não se fecha a ninguém, ou quase ninguém. Os seus portões fecham-se apenas a mundos com más energias, que me fazem sentir mal, apesar de consciência tranquila, ou que deturpam o que sou ou quem sou. Tento sempre resolver situações dúbias ou mal entendidos, através do diálogo, mas nem sempre o consigo pois não depende apenas de um dos lados. E existem lados bem obstinados! Nestas situações, o meu escorpião manifesta-se e afasto-me, seguindo o meu caminho. 
Nas últimas semanas, por razões profissionais, fechei o meu mundo - imbuí-me nele - sem me aperceber que o tornara impenetrável. Apesar de não ser um imperativo para a minha felicidade -  ter alunos, uma escola, fazer aquilo que mais gosto - sinto um vazio em mim que me faz sentir incompleta. Adoro ensinar e a exclusão injusta do concurso de professores perturbou-me imenso. Seguiram-se dias que me angustiaram e absorveram uma grande parte da minha energia. Entretanto, fui apercebendo-me que, para além de me fechar, perturbava também aqueles que me rodeiam - a minha família. Como me arrependo por tê-lo permitido! 
Este não é o meu mundo! Não sou uma nuvem cinzenta, apesar de ter passado por experiências que esbateram o meu arco-íris. Passar o tempo a lamentar-me e a dizer mal da vida é uma perda de energia. Cada experiência, boa ou má, pode transformar-se numa aprendizagem e, depois de a interiorizar, sigo em frente. No meu mundo todos os acontecimentos, apesar de aleatórios, têm um significado e complementam-se. 
Assim, regresso à escrita, às minhas reflexões, e reponho a ordem no caos. Questiono se não será apenas mais um meandro e o que me revelará depois de o percorrer, até porque, na minha vida, no meu mundo, nada parece ser ao acaso. 
Certo dia, compararam-me a uma caixinha de música... Foste tu, Bárbara! E tinhas razão. O meu mundo é algo misterioso - eu própria me surpreendo nele - e guarda tesouros que vou descobrindo a um compasso lento, marcado por uma melodia antiga, muito mais antiga do que algum dia pudera imaginar. E a bailarina sou eu - rodopio ao ritmo dessa melodia que me faz sonhar.
Este é o meu mundo,... uma pequena caixinha de música que lentamente se irá revelar.


sábado, 29 de julho de 2017

O meu mundo entre muitos


Tenho um mundo muito próprio, muito meu. Tal não significa que outros vejam vedada a sua entrada no meu mundo ou, sequer, que o mantenha em segredo. Sou transparente. Não consigo esconder as minhas emoções - os meus olhos traem-me! - e não sou egoísta, gosto de partilhar experiências, emoções e desilusões. Sou como sou e assumo-me como tal. 
Longe da perfeição - até porque não procuro alcançá-la - tenho, como todos, o meu lado bom e o lado mau. Dizem que tenho mau feitio. Dizem que sou teimosa. Dizem que não quebro. Não nego pois não sou santa. Dependendo das situações, posso transformar-me e surpreender quem me provocou. Mas não seremos todos um pouco de tudo?
Se me focar apenas no meu mundo terei uma determinada perspectiva da minha vida, perspectiva essa que será diferente daquela de quem observa o meu mundo por fora. Todos nós temos mundos diferentes mas não necessariamente isolados dos vizinhos. Apesar do meu mundo ser próprio, pode interferir com o dos outros e, dependendo das minhas vivências, poderá repelir ou atrair outros. Mas onde pretendo chegar com tal conversa? 
Simples. Se tentarmos entender o que se passa com o outro, no seu mundo, talvez consigamos entender aqueles defeitos e encontrar qualidades através dos mesmos. Há algum tempo, conheci alguém que passava a vida a lamentar-se. Se tivesse de esboçar uma caricatura, certamente representaria uma nuvem bem negra e com raios a serem desferidos em todas as direções. Uma visão nada agradável. Como consequência, afastava quem a rodeava e aqueles que a procuravam. 
Na altura não percebia a razão de tanta negatividade. Procurei, então, conhecê-la. Não foi fácil - demorou o seu tempo -  mas quando consegui entrar no seu mundo e ter a noção do que se passava, compreendi. Foi um passo importante pois não me conseguiu repelir e tornámo-nos amigas. Senti-me muito bem, na altura, pois fi-la sorrir novamente e aliviei a nuvem escura que pairava sobre ela. Talvez continue a manifestar essa nuvem negra aos que ainda não se esforçaram para entendê-la... Mas, para mim, a nuvem transformou-se num arco-íris. 
Questiono, então, quantos arco-íris poderiam ser espalhados por todos e tantos mundos se nos déssemos ao trabalho de os procurar, se nos concentrássemos menos nas nossas vidas e procurássemos entender melhor as dos outros.

domingo, 23 de julho de 2017

Parabéns, meu amor maior!



Mais um ano, meu amor! Onze anos intensamente vividos, recheados de batalhas vencidas e com muitas histórias para contar. És um privilegiado por possuir tamanha riqueza em experiências e vitórias. És o meu mais do que tudo, o meu maior tesouro e mestre de vida. 
Os ensinamentos que nós, teus pais, te temos transmitido, começam a florir. Estás a crescer com valores que herdámos e, com carinho, te legamos. Nem sempre é fácil caminharmos e trilharmos por desfiladeiros sinuosos e encontrar o nosso ritmo, sobretudo quando difere da maioria, mas és capaz! Contigo aprendemos que o impossível não existe sendo apenas o exagero para o difícil. Contigo aprendemos a valorizar a simplicidade da vida, os afetos e as possibilidades do que ainda está por vir.
Quero-te tanto e não tenho palavras para descrevê-lo. Pudesse dar-te a Lua! Pudesse dar-te o Sol! Como não posso, dou-te o meu ser! Um amor profundo e tranquilo. Um amor confiante, apesar de sempre alerta. Um amor que me aperta o peito e dói pois é este sentimento que me dá vida.
Estás a crescer. Estás a aprender a viver. Já aprendeste tanto e tanto ainda por aprender! Meu rico filho, desejo-te o mundo... aquele mundo justo, solidário e com valores. Se não o encontrares logo, não desarmes! Ele existe. Fecha os olhos, lembra-te de nós e sorri. Ei-lo! E não te esqueças de lutar pelo que acreditas, luta e vencerás. Mas não será já, um pouco de tudo isto, a tua vida? 
Sê feliz, meu amor maior! Amo-te daqui até à Lua!

terça-feira, 4 de julho de 2017

A ordem e o caos


Nunca gostei muito de filosofia. Achava estranho e despropositado fazer uma determinada afirmação e questioná-la ou contrariá-la logo de seguida. Quando jovem, não entendia a razão de filosofar, não entendia o porquê de questionar algo que nos era dado como certo. Para quê complicar aquilo que é tão simples?
A vida é simples mas os meandros, que percorremos ao longo da nossa escala temporal, são muitas vezes armadilhas, obstáculos que testam a nossa resistência e sanidade mental. Há algum tempo, em conversa com uma prima afastada e afilhada da minha avó, ouvia uma grande verdade - Todos carregamos uma cruz. O segredo está no modo como o fazemos: se a tornamos mais leve ou mais pesada! 
Gosto de questionar a vida, a razão de cá estarmos e o sentido e propósito da mesma. Para quem julgava tudo muito simples, iniciou-se um processo complexo de montagem de um puzzle, formado por peças afastadas cronologicamente mas complementares e repletas de significado. O desafio torna-se claro - decifrar a mensagem daquilo que cruza o meu caminho.
Sou professora e aprendo muito mais com os meus alunos do que eles aprendem comigo. Porquê? A resposta é muito simples... eles transmitem-me vivências diversas, únicas, e eu assimilo-as, retirando de cada uma delas diferentes aprendizagens. Todos os anos enriqueço em experiência e conteúdo. Posso envelhecer fisicamente mas rejuvenesço psicologicamente, mantendo uma mentalidade aberta perante a sociedade que me rodeia.
Desengane-se aquele que julga viver acima ou à parte dos outros. Não somos indivíduos capazes de viver isolados, pelo contrário, cada um de nós é um sistema aberto que interage com tudo aquilo que o rodeia. Queiramos, ou não, os nossos caminhos cruzar-se-ão, um dia, por qualquer razão. E o grande segredo, para mim, está na descoberta do papel que cada um desempenha ao cruzar o seu caminho com o meu. Num autêntico rendilhado constituído por bifurcações, cruzamentos e caminhos com sentido único, partilho experiências - umas mais intensas do que outras - mas todas com o seu significado. Existem pessoas que me fazem manter o rumo certo, outras, por existirem, lembram-me constantemente quem sou, e existem as que me despertam, abrindo-me os olhos para o meu sentido nesta vida. Outras, desempenham papéis secundários, quase como simples figurantes, mas que preenchem os espaços vazios no meu caminho, colorindo-os. E neste enorme novelo, completamente entrançado, aquilo que parece caótico tem a sua ordem. E assim, sigo o meu caminho, sem saber ao certo para onde vou mas com a certeza de que, um dia, lá chegarei. 

sábado, 1 de julho de 2017

Ouro sobre azul



Ontem foi dia de entrega das avaliações na escola frequentada pelos meus filhos. Representa apenas a formalização de algo que foi desenvolvido no decorrer do ano letivo e, por isso, não representava qualquer surpresa para mim. As surpresas foram-se sucedendo logo desde o início e todas elas foram boas. 
A mudança do Diogo para uma turma de terceiro ano, com uma professora nova, seria um desafio. O outro seria a entrada da Laura para o primeiro ano e a partilha do espaço escola pelos dois irmãos. Preparei os meus filhos, durante as férias, para a mudança que iria acontecer nas suas vidas.  O Diogo negara-se perentoriamente a mudar de turma e a Laura era muito rebelde e ativa, o que me criava um certo receio quanto ao seu comportamento em sala de aula. Como nós, pais e adultos, temos a tendência para complicar!... Os meus receios foram em vão. 
O Diogo sentiu-se feliz na escola, pela primeira vez, pois desenvolveu todas as atividades na sala com os seus colegas - passou a ser um deles - era igual entre os seus pares e sentiu-se verdadeiramente integrado. Esta felicidade impulsionou a sua vontade de melhorar e motivou-o face às aprendizagens. A minha Laurinha revelou que, a par da sua rebeldia e teimosia, existia uma criança muito autónoma, perspicaz e responsável, curiosa e sedenta por aprender mais. Não poderia esperar melhores resultados, de ambos, pois sei que deram o seu melhor. 
O que transmito aos meus filhos é o gosto por aprender, não desistirem perante as dificuldades e serem felizes na escola - a mãe não fica triste se não tiverem boa nota, desde que tenham dado o vosso melhor. Se o vosso melhor não corresponder ao que fizeram, não desistam e tentem melhorar para a próxima. - Se os meus filhos gostarem de ir para a escola para aprender, se os meus filhos forem felizes na escola, na sala de aula, não apenas no recreio, dar-me-ei por feliz, muito feliz!
Desejo que adquiram boas bases no primeiro ciclo mas, acima de tudo, que aprendam a ser felizes pelos seus próprios meios. A transição do infantário para o primeiro ciclo é, na minha opinião, a mais difícil. A carga letiva a que são sujeitos é um atentado à sua condição de crianças. A quantidade de conteúdos e de objetivos a alcançar é um desafio para os professores e um pesadelo para o comum mortal, imaginem o que será para eles... e como ficam os meus filhos entre tudo isto? Felizes! Gostam da escola, gostam de aprender e sabem como lidar com as dificuldades. Não lhes exijo notas. Não sentem, sobre os ombros, o peso das fichas de avaliação pois é um momento como qualquer outro, em que têm que dar o melhor de si. Também, nas relações com os outros, temos que dar o nosso melhor, respeitando-os, aceitando-os como são e querendo o seu bem, sem nunca perdermos a nossa identidade e valores. Ensino-os a saber estar, a saber conviver e a aceitar as diferenças. 
O que mais poderei desejar se, durante o primeiro ciclo, conseguirem adquirir bases para o futuro e, acima de tudo, alicerçarem competências emocionais que lhes permita construírem o seu eu consciente, solidário e crítico? Será ouro sobre azul! 
Sejam felizes...