quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O Silêncio

Assim como existe o ruído, também existe o silêncio e é este o meu preferido. É no silêncio que procuro as respostas às minhas dúvidas, é nele que tento encontrar justificação para o que a vida me dá. São estes períodos de introspeção que me conduzem a novas aprendizagens - e têm sido tantas! - e à compreensão e interiorização do caminho que tenho de percorrer.
Foi no silêncio que vislumbrei o meu mundo e o modo como interage com muitos outros, cada um com as suas especificidades. Neste meu mundo reúno as minhas vivências, as minhas recordações, quem me fez crescer, quem cruzou o seu caminho com o meu, por uma razão maior ou menor. Reúno quem me quer bem, quem me motiva e quem me desafia mas não esqueço quem me desilude ou magoa. Existe uma imensidão de significados no meu mundo que vou mantendo a preto e branco, se forem desagradáveis, ou dou-lhes cor se forem bons. Se o silêncio me faz evoluir também, por outro lado, pode e costuma magoar-me. Tento evitar a dor mas é esta que mais me faz crescer na minha essência, no interior do meu ser.
Foi em silêncio que aprendi que a minha perspetiva sobre um determinado acontecimento é minha e diferente da perspetiva de qualquer outra pessoa que tenha vivenciado o mesmo acontecimento. Cada um de nós é único, reflexo das suas crenças, das suas vivências, das suas recordações, das imagens que preserva consigo e que gravou ao longo do filme da sua vida. 
Foi em silêncio que aprendi que quanto mais penso em algo que me magoa, mais penoso e doloroso se torna o meu caminho. Assim, com muita prática e persistência, desvio a minha atenção. Foco-me em algo que me distraia e relaxe de modo a que, mais tarde e com menos pressão, consiga encontrar soluções. Há quem me questione, que me critique, pensando que serei insensível ou que não me preocupo. Muitos são os que me consideram forte, outros achar-me-ão fria. Lá está... depende da perspetiva de cada um. Apenas desvio o meu foco pois, não tendo uma solução imediata, estarei apenas a amplificá-lo e a fazer da minha vida um inferno.
Foi no silêncio que aprendi que não tenho limites, para mim o impossível não existe. O que quero, consigo! É uma questão de tempo e perseverança. Os obstáculos surgiram desde sempre no meu caminho mas, passo a passo, dia a dia, sigo na direção que me conduzirá ao ponto a que pretendo chegar. Estes são os meus litlle baby steps...
Não sou materialista. Sou colecionadora de afetos! São estes que me dão alegria em viver e são estes que fazem de mim quem sou. A minha vida seria vazia sem afetos, seria a preto e branco, perderia o seu sentido. E são estes afetos que me permitem afastar más energias, maus pensamentos, maus momentos. Não sou forte como julgam. Tenho dias bons e dias maus, como qualquer um, mas foi no silêncio que aprendi a lutar pelo que amo, pelos meus e pelos que me querem bem.
O meu silêncio pode ser como um túmulo para muitos mas é um mundo para mim - onde me deleito com a liberdade de me redescobrir - pois foi também no silêncio que aprendi ser possível renascer várias vezes nesta vida.