domingo, 31 de dezembro de 2017

2018 - Venha lá mais um!


Em véspera de passagem de mais um ano, questionei-me inúmeras vezes sobre a razão de celebrarmos esta transição tão intensamente, se afinal só muda um número e as nossas vidas seguem o seu rumo. 
Ao longo do dia, recordei-me de passagens tristes, pela ausência de alguém querido que já partira, mas também por sentir-me angustiada pelo desconhecido que se tornara o meu futuro e o do meu filho.
Recordei-me particularmente de 2008. A epilepsia do Diogo manifestara-se em maio e ainda aprendíamos a viver com aquela que nos acompanha desde então. Tive a perceção da proximidade do abismo tal como o sentira na altura. À meia noite em ponto, depois da contagem decrescente para o novo ano, sentia os olhos a encherem-se de lágrimas que desesperadamente tentava conter, mas sem sucesso. Teimavam resvalar-me pela face, contra minha vontade e não consegui esconder a ninguém a dor que me atormentava a alma.
Interroguei-me então sobre a importância desta noite em que as reações são exacerbadas, os sorrisos e as lágrimas manifestam-se intensamente e com mais facilidade, como se o amanhã não existisse e os tivéssemos de gastar naquele momento. Porquê? Talvez porque tenhamos esperança que a mudança do número, a entrada de um novo ano, seja uma nova oportunidade para mudarmos, para melhorarmos, uma oportunidade para apagar o que nos magoou e podermos seguir um novo caminho.
Recordei a mesma noite quando fui adolescente - as motivações e sonhos que desenhava e sarrabiscava secretamente num diário. Reconheço que este regresso ao passado foi uma experiência que marcou o dia de hoje.
Entre muitas recordações, lembrei-me de pessoas que admirava pela vida de doação aos pobres e mais necessitados, como a Madre Teresa de Calcutá, aqueles que lutavam contra o preconceito e pelos direitos das crianças e, ainda, aqueles que se manifestavam contra a crueldade praticada contra os animais e a natureza, colocando as suas vidas em risco – homens e mulheres da Fundação Greenpeace.
Lembrei de me ter passado pela cabeça ser freira…, mas foi uma ideia que desapareceu tão depressa como surgiu, pois, já nessa altura, gostava muito de falar e um dos meus maiores sonhos era ser mãe. Admirava a minha avó Aida pois era uma excelente contadora de histórias – que sempre me inspiraram – e admirava a minha mãe pela sua dedicação aos filhos e pela sua resiliência.
Encontrei muito de mim nestas recordações. Sou eu pois tenho uma família que estima os seus valores, transmitindo-os de geração em geração. Encontrei as minhas origens e a minha força.
Cresci e evoluí muito desde então. O presente que vivo não foi um futuro sonhado por mim, mas o caminho que tenho percorrido fez de mim uma pessoa melhor e encontrei a felicidade quando tudo no meu mundo parecia desmoronar. A minha vida tem sido uma constante descoberta em mim e os sonhos são uma constante na minha vida. O meu mundo é de afetos e o impossível não existe.
Para o ano de 2018 não espero nada de especial. Prometo sim, a mim, ser fiel a mim mesma e ao que sinto. Prometo dar mais de mim e não me desiludir. Prometo estimar o meu mundo dos afetos. Prometo descobrir novos caminhos e partilhá-los com quem me quer bem. Prometo continuar a ser feliz nesta aventura chamada Vida. 
Assim sendo, venha lá mais um ano! E sejam felizes!

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

2017, um ano de revolução


Mais um ano se aproxima do fim e, como é habitual, torno-me introspectiva e faço um balanço sobre a minha vida. Nesta quadra revivo intensamente o passado que me construiu e fez de mim quem sou. Relembro todos os que partiram, deixando um vazio físico no meu quotidiano, apesar de senti-los muito presentes todos os dias. Volto a ouvir as suas gargalhadas, as nossas conversas, os seus ensinamentos... consigo ver cada pormenor dos seus rostos e o brilho nos seus olhares. A cada ano que finda, homenageio quem já me deixou e me transmitiu os valores que regem a minha vida.  Quantas saudades sinto de todos eles! A vida deve ser celebrada, mesmo com estas ausências, pois todos fizeram parte dela, até um dia, e enriqueceram a minha existência incomensuravelmente.
O ano de 2017 foi algo indescritível. Passei por quatro escolas distintas, tive muitos alunos - todos diferentes - e trouxe comigo um palmo de amizades, boa gente que enriqueceu um pouco mais o meu caminho e aglutinei com carinho ao meu mundo. Diferentes vivências e novas descobertas conduziram-me a um autoconhecimento intrínseco e mais profundo. Valorizei-me muito como mulher e melhorei a minha autoestima.
Mas nem tudo foi agradável. Passei por uma exclusão nos concursos de professores que me revoltou imenso. Foram meses de indefinição a lutar por uma causa que não foi apenas minha. A determinada altura abria o meu mundo a mais mundos - aqueles que como eu aguardavam um desfecho numa saga de loucos. Passaram a fazer parte da minha vida e aprendi que a solidariedade entre colegas nos permite pequenas conquistas, pequenas para alguns, mas enormes para nós. Mais um grande punhado de amizades que levarei pela vida.
Fui colocada administrativamente em finais de outubro. Não estou só, a Elizabete está comigo. Duas excluídas colocadas na mesma escola, foi caso único! Juntas ultrapassamos obstáculos e lutamos pelo nosso lugar. Neste momento, posso dizer que já conheci quem será importante trazer comigo quando o ano letivo terminar. Todos os anos o mesmo desfecho: deixo um bocadinho de mim e trago um bocadinho de outros.
Se pudesse resumir 2017 a uma palavra escolheria revolução. Uma revolução positiva em todos os aspetos da minha vida, o trampolim para um ano de transformação e mudança que vislumbro para 2018.
Para o próximo ano prometo não me desiludir, prometo ser fiel a mim mesma e aos meus sentimentos. Darei o melhor de mim e abrirei novos caminhos que percorrerei acompanhada por quem me quer bem.

A todos vós que fazeis parte do meu mundo, da minha história…
Um 2018 doce, tranquilo e luminoso!

Sejam felizes!

sábado, 2 de dezembro de 2017

Sensibilidade e bom senso


Os meus filhos são o meu mundo! Já os amava quando, em plena adolescência, elaborava listas de nomes para aqueles que seriam o meu mais do que tudo. Amo-os, agora, ainda mais!
Luto diariamente para dotar os meus filhos de ferramentas para que possam trilhar os seus caminhos com determinação, espírito crítico, responsabilidade, respeito e solidariedade para com os outros. Incuto à minha prole a beleza existente na diferença, transmito-lhes valores que herdei e ensino-os a superarem as suas frustrações. Não desejei filhos perfeitos e não trocaria, por nada, as suas arestas ainda por limar. 
Não é fácil criar uma criança nos nossos dias perante uma sociedade elitista, competitiva e cruel. Como professora tenho visto um pouco de tudo e o que mais me assusta é a falta de empenho para com alunos com necessidades educativas especiais (NEE). Serão filhos de um Deus menor? 
Ao longo destes anos - e não são poucos - tive sempre alunos especiais que contribuíram para a minha evolução como profissional mas, sobretudo, fizeram de mim uma pessoa melhor. Nunca olhei para eles como uma "carga de trabalhos" e dediquei-me sempre de modo a serem bem sucedidos nas suas aquisições e aprendizagens. Não é um trabalho fácil nem reconhecido por ninguém, senão pelos próprios, salvo algumas exceções...
Muitos alunos deixam-se levar pelo facilitismo e não possuem motivação para se empenharem no processo de ensino/aprendizagem. Tornam-se apáticos e escudam-se no estatuto de NEE, confiando que a transição de ano é-lhes garantida. Recordo-me de, há uns anos, ter um aluno que era da minha direção de turma e que assinava apenas os testes. Dizia - "Não se preocupe comigo, professora! O ano passado também tinha negativas a todas as disciplinas e acabei por passar". Cometeu um erro pois o seu desinvestimento declarado foi sentenciador da sua retenção. Esta retenção nunca me pesou na consciência pois, apesar da sua apatia, como professora fiz tudo o que estava ao meu alcance para tentar reverter a sua sentença anunciada. Recentemente tive também uma aluna com NEE que me informou que lhe deveria dar as soluções dos testes pois tinha muitas dificuldades e era a recomendação do psicólogo que a acompanhava - mentira! Em quase dezanove anos na educação não tive mais alunos que se fizessem valer das necessidades educativas especiais. São alunos deste gabarito, com encarregados de educação coniventes, que dão mau nome à educação especial, que não deve ser para todos mas para aqueles que realmente precisam. 
Nos últimos anos, temos vindo a presenciar um aumento invulgar e algo escandaloso no número de alunos com NEE e questiono-me se esses números serão verdadeiros. Estou no direito de duvidar pois também sei que quando um aluno demonstra dificuldades acrescidas nas aprendizagens é muito mais fácil sinalizá-lo e passar a batata quente para outros, facilitando o seu percurso escolar. Desenvolvem-se PEIs e CEIs e abre-se o caminho para o faz de conta. Passei anos a desenvolver estratégias que conduzissem os meus alunos especiais ao sucesso, nem sempre com resultados positivos mas valorizando, sempre, as estratégias bem sucedidas e menosprezando aquelas que em nada contribuíam para a sua evolução. Nunca alinhei no jogo do faz de conta
Sou grata por ter tido alunos especiais que me ensinaram mais do que uma licenciatura e me prepararam para o maior desafio da minha vida. Sou grata por ter colegas que cruzaram o caminho do meu filho e fizeram por ele mais do que lhes era solicitado. Vestiram a camisola pelo meu Diogo e, contra ventos e marés, ajudaram-no a alcançar vitórias imensas que mudaram o rumo da sua vida. Sou grata à professora Paula que, durante três anos, acarinhou o Diogo e lidou com a perda da consciência fonológica desde o início, nunca desistindo da sua recuperação e sempre com os pés bem assentes em terra. Sou grata à professora Alda, de educação especial, que se envolveu de corpo e alma na recuperação do meu filhote e partilhou comigo as frustrações e as vitórias alcançadas pelo rapaz. Agradeço à professora Anabela que se dedicou apaixonadamente à aprendizagem da leitura pelo Diogo e o acarinhou nos maus e bons momentos. Sou grata à professora Fátima que apoiou e apoia o meu rapaz pacientemente. Sou grata às terapeutas que trabalharam e continuam a trabalhar as dificuldades existentes, contribuindo nos bastidores para o seu sucesso. Sou grata à professora Sónia que concretizou a verdadeira integração/inclusão do Diogo e fê-lo acreditar nas suas capacidades, alcançando resultados nunca antes imaginados.
Ninguém consegue, sequer, imaginar o trabalho, empenho, determinação e dedicação deste grupo de professoras que cruzou os seus caminhos com o do meu filho! Bem hajam por contrariarem a corrente do facilitismo e do faz de conta! Prometo que não permitirei que nada, nem ninguém, destrua o vosso trabalho! 

"Ser professor, SABER SER PROFESSOR... é ser eterno aluno da vida e do amor... é limpar as lágrimas e dar voz à dor alheia e ficar longe quando a vida manda abraçar o futuro."

Autor desconhecido