segunda-feira, 10 de maio de 2021

Trancada a sete chaves



Parece que o tempo parou mas, na realidade, fui eu que estagnei. Apesar de ter aprendido muito sobre mim e sobre os outros, sinto-me sem reação perante o que se passa à minha volta. Quase como um espectador silencioso ou mero observador. 
Ao longo do ano que passou tenho visto um lado meu bastante obscuro que preferia manter trancado, algures num porão perdido da minha existência. Como tal não é possível, partilho convosco algumas das minhas sombras.
Este período de desconfinamento deu-me a oportunidade de reconhecer uma grande perda emocional e pessoal. Transformei-me numa couraça rígida e impenetrável, onde escondo os meus sentimentos, faço os meus monólogos e sinto só uma profunda nostalgia daquela que fui um dia. Sinto-me mais pobre apesar de continuar a somar experiências e aprendizagens. Sinto-me à deriva, apesar de saber onde fica o meu Norte e saber como lá voltar, mas sem energia para fazê-lo.
Sinto-me distante e fria. Sinto fingir ser quem fui e que perdi o fogo interior que me aquecia e guiava nos melhores e piores momentos da minha vida. Habituei-me ao silêncio e tornei-me sua companheira. Talvez estas palavras sejam um primeiro passo para reacender a centelha que sempre iluminou a minha existência. Talvez nasça a vontade de sair desta escuridão a que me rendi. Talvez este silêncio seja mais uma caminhada com um propósito. 
Apetece-me reagir mas acomodei-me ao silêncio e inércia interiores. Assim, passo o tempo, descobrindo o que esqueci e o que quero recuperar, de modo a sentir-me novamente viva e não uma assombração daquela que já fui. Talvez o amanhã seja outro dia, mas um pouco melhor.