terça-feira, 4 de julho de 2017

A ordem e o caos


Nunca gostei muito de filosofia. Achava estranho e despropositado fazer uma determinada afirmação e questioná-la ou contrariá-la logo de seguida. Quando jovem, não entendia a razão de filosofar, não entendia o porquê de questionar algo que nos era dado como certo. Para quê complicar aquilo que é tão simples?
A vida é simples mas os meandros, que percorremos ao longo da nossa escala temporal, são muitas vezes armadilhas, obstáculos que testam a nossa resistência e sanidade mental. Há algum tempo, em conversa com uma prima afastada e afilhada da minha avó, ouvia uma grande verdade - Todos carregamos uma cruz. O segredo está no modo como o fazemos: se a tornamos mais leve ou mais pesada! 
Gosto de questionar a vida, a razão de cá estarmos e o sentido e propósito da mesma. Para quem julgava tudo muito simples, iniciou-se um processo complexo de montagem de um puzzle, formado por peças afastadas cronologicamente mas complementares e repletas de significado. O desafio torna-se claro - decifrar a mensagem daquilo que cruza o meu caminho.
Sou professora e aprendo muito mais com os meus alunos do que eles aprendem comigo. Porquê? A resposta é muito simples... eles transmitem-me vivências diversas, únicas, e eu assimilo-as, retirando de cada uma delas diferentes aprendizagens. Todos os anos enriqueço em experiência e conteúdo. Posso envelhecer fisicamente mas rejuvenesço psicologicamente, mantendo uma mentalidade aberta perante a sociedade que me rodeia.
Desengane-se aquele que julga viver acima ou à parte dos outros. Não somos indivíduos capazes de viver isolados, pelo contrário, cada um de nós é um sistema aberto que interage com tudo aquilo que o rodeia. Queiramos, ou não, os nossos caminhos cruzar-se-ão, um dia, por qualquer razão. E o grande segredo, para mim, está na descoberta do papel que cada um desempenha ao cruzar o seu caminho com o meu. Num autêntico rendilhado constituído por bifurcações, cruzamentos e caminhos com sentido único, partilho experiências - umas mais intensas do que outras - mas todas com o seu significado. Existem pessoas que me fazem manter o rumo certo, outras, por existirem, lembram-me constantemente quem sou, e existem as que me despertam, abrindo-me os olhos para o meu sentido nesta vida. Outras, desempenham papéis secundários, quase como simples figurantes, mas que preenchem os espaços vazios no meu caminho, colorindo-os. E neste enorme novelo, completamente entrançado, aquilo que parece caótico tem a sua ordem. E assim, sigo o meu caminho, sem saber ao certo para onde vou mas com a certeza de que, um dia, lá chegarei. 

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