Reunimos na sala de aulas para o Diogo ser
apresentado aos colegas. Pouco depois, saíram para o intervalo e o meu filho
desapareceu também. Fiquei com receio mas logo me tranquilizaram pois as
funcionárias da escola estavam a vigiá-lo e estava acompanhado por uma amiga
especial que lhe mostrava os cantos da escola. Depois de contar a história do
Diogo e explicar como agir em situação de crise, ficou combinado que poderia
começar a frequentar as aulas de modo gradual: na primeira semana, aulas até ao
intervalo da manhã; segunda semana, aulas até ao intervalo da manhã e intervalo
da tarde; terceira semana, manhã e parte da tarde; quarta semana, o dia todo. A
Dr.ª Clara proibira o meu filho de praticar qualquer desporto esse ano letivo,
por isso, não assistia sequer às aulas de educação física.
A adaptação à escola decorreu com
tranquilidade. No fim das aulas, contava-me o que tinha feito na escola, com
quem tinha brincado e pouco mais. Até que o pouco mais tornou-se um nada e
começou a fazer crises no fim do dia. Não era possível tal estar a acontecer
pois as crises eram menos frequentes desde a cirurgia e ocorriam apenas no
período de sono. Algo se passava com o Diogo. Fiquei alerta.
Certo dia, e após alguma insistência
minha, contou-me que um colega da turma se levantava todos os dias, várias
vezes, passava por ele e dava-lhe uma sapatada na cabeça, "Está
explicado!"
Apesar de muito se falar e publicar sobre
bullying, descobri que pouco se sabe. Aprendemos muito quando o bullying entra
em nossa casa, não com o que lemos ou ouvimos. Na altura questionei-me se a
palavra bullying não seria muito forte para o que acontecia com o meu filho...
Se perguntasse a opinião a alguém não duvido que me responderiam - "Achas?
Isso é normal nos miúdos dessa idade! Não ligues."- pois!...
Para mim, bullying é tudo aquilo que
perturba emocionalmente o Diogo, traduzindo-se num aumento de crises. E agora,
o que fazer? Fui à escola e contei à professora o que se passava, de modo a que
pudesse intervir caso se apercebesse de algo ou de modo a evitar que tal
voltasse a acontecer, mas as crises não cessaram e o massacre psicológico
continuava. Foi então que me apercebi que quanto menos reagisse, mais o meu
filho se transformava numa vítima e fiz algo que nunca pensei ter de fazer... "Diogo,
quando o teu colega voltar a bater-te, dá-lhe um murro na barriga para ele
saber que também és forte. Mas com força! Se a senhora professora perguntar por
que o fizeste, diz que foi a mãe que mandou."- remédio santo e as crises
normalizaram.
Não me julguem pois não imaginam o quanto
dói à criança e aos pais e garanto-vos que fariam o mesmo numa situação
idêntica. Deus me perdoe mas nunca direi ao meu filho para oferecer a outra
face! No mundo em que estamos, nunca!
No fim do mesmo ano letivo, fui alertada
por um colega do meu filho que uns meninos do terceiro ano pretendiam fazer um
tipo de emboscada para lhe tirarem o capacete que usava como proteção e verem o
que tinha na cabeça. Fiquei doente, completamente transtornada. Como é possível
as crianças serem tão cruéis? Pensei telefonar à tia do miúdo pois era minha
conhecida... "Não, Patrícia! Não podes ser tu a resolver o problema, tem
de ser o Diogo". Durante o fim de semana falei com o meu filho e disse-lhe:
"Se te pedirem o capacete não te preocupes e empresta-o, não faz mal.
Aproveita e pede o boné em troca."
E assim foi. Alguns dias mais tarde
diziam-me: "O Diogo anda todo divertido nos intervalos a trocar o capacete
por bonés".
O Diogo sofre de bullying esporádico, eu
diria até bullying sazonal. Não é sistemático, ocorre no início de cada ano
letivo e sempre praticado por alunos diferentes ou novos na escola. Sendo uma
criança pacífica e infantil, que gosta de brincar com todos, torna-se um alvo
fácil para aqueles que gostam de humilhar e obtêm satisfação com tal ação.
Apesar de tudo, o meu filho adora a escola e vai aprendendo a lidar com as situações.
Não é a mãe que resolve os seus problemas - é ele próprio - e não resolve
sempre da mesma maneira. Vai adaptando-se e sabe o que é melhor para ele.
Eu não gosto da palavra bullying mas ela existe e manifesta-se na vida do meu filho e, por isso, surgiu a necessidade de o ensinar a defender-se. O Diogo sabe que não é correto bater nos outros e que os problemas não se resolvem à pancada mas se tiver que fazê-lo para se defender, fá-lo. Acima de tudo, o Diogo sabe que deve socorrer outros e ajudá-los em situações idênticas. Não, não foi a mãe que lho disse, foi ele mesmo que o assumiu. E não seria mais fácil combater o bullying se outros fizessem o mesmo?
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