segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Memórias de um tempo que não vivi


A epilepsia entrou de rompante nas nossas vidas, tinha o Diogo apenas 21 meses. Fez-se de convidada e, apesar de indesejada, instalou-se e, com ela, o caos. São anos de batalhas vencidas e de obstáculos ultrapassados, apesar desta malfadada continuar entre nós e para sempre.
Recordo-me de tudo e de todos os pormenores, datas, horas, acontecimentos, palavras ditas e outras que ficaram por dizer. Parece que vivo desde esse dia, apenas estes anos encontram-se gravados a fogo na minha consciência. 
Do passado pouco me lembro, apenas vagamente, com excepção de tudo o que me permitiu formar como pessoa. Tenho saudades de todos os que já partiram e guardo comigo todos os seus ensinamentos. Tenho saudades da minha meninice, recheada de malandrice e brincadeiras. Tenho saudades da minha adolescência, rebelde e sedenta pelo futuro. Tenho saudades de um futuro que não vivi e que tinha pintado, com carinho, e guardado no meu sótão, onde permanece trancado a sete chaves.
A epilepsia refractária do meu filho não me permitiu mostrar-lhe esse futuro - brindou-me com algo diferente - mas trocá-los-ia? Esta questão surgiu-me há uns anos, antes da primeira cirurgia de epilepsia do Diogo. Pensei, na altura, como seria o meu filho sem a sua companheira... e não consegui uma resposta.
Agora vivo um futuro que não foi planeado por mim. Vivo um presente em que sou feliz, verdadeiramente feliz, mesmo com a companheira do meu Diogo. Mudaria os nossos destinos se me fosse permitido? Não! Acredito que somos um acumular de experiências, são as nossas vivências que fazem de nós quem somos. Apesar de o caminho percorrido ter sido tortuoso, não o trocaria por outros caminhos. Fui brindada com um filho que não trocaria por nada neste mundo. Foi, e continua a ser, o meu mestre nesta vida. Fez de mim uma pessoa melhor e, com ele, aprendi que a nossa maior riqueza é o mundo dos afetos, a simplicidade da vida, as palavras que têm de ser ditas e os sonhos - para além de esboçados - esculpidos, com suor, de modo a serem realizados.
De que serve sermos presenteados com a vida se nada fazemos para vivê-la? Nada nos cai do céu e, se nada fizermos, teremos desperdiçado o tempo de uma vida. Se a vida quer luta, lutemos! 
Hoje é o dia da companheira do meu filho - o dia Mundial da Epilepsia - e a mãe ama-te daqui até à Lua! Por que não volto, meu amor? Porque a Lua é misteriosa e bela como o amor que sinto por ti! Porque ocupa um lugar no infinito e porque reflete a luz de uma estrela - o Sol. E é essa luz que ilumina a minha vida, tal como tu!
       

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