terça-feira, 12 de maio de 2020

Solidão


Sou daquelas pessoas que pensa mais do que se faz ouvir. Sobretudo entre amigos. Tenho uma amiga e confidente com quem falo dos meus devaneios, das minhas crenças e exponho aqueles pensamentos mais absurdos que não encaixam na mentalidade da maioria. Tenho pena de estarmos separadas geograficamente pois com ela não tenho pudor ou receio de dizer o que penso, sob a ameaça de me acharem alucinada. Partilhamos conversas de conteúdo restrito, por assim dizer. 
Apesar de rodeada por muitos, sinto-me só. Às vezes até sinto multidões a rodear-me... mas, na verdade, estou só. Será real esse sentimento de solidão ou esta minha perceção não será apenas ilusão?
Senti uma grande solidão em 2008. Este ano foi cravejado a fogo na minha família e deixou cicatrizes permanentes. Surgiu a epilepsia refratária do meu filho. Vivemos um pesadelo na altura e, apesar de todo o apoio que recebi, nunca me senti tão só em toda a minha vida. O meu filho, a sua vivência na epilepsia, alterara as nossas rotinas e deixei de me identificar com a vida que fazia até então. Aprendi, a muito custo, a relativizar qualquer acontecimento. Sim, aprendi pois relativizar é mais difícil do que se pensa. Implica abandonar, esquecer os nossos sonhos e substituí-los por outros - que sempre vi como remendos, apesar de não o admitir - pelo menos assim pensava. Não mais!
Sem saber, a minha vida seguiu o rumo devido. Este foi sempre o caminho. Eu não o sabia. Desculpem-me a frieza mas só cresce quem sofre. Caso contrário, estaria ainda a viver uma vida em que me julgava feliz, sem ser conhecedora de um amor profundo, de uma dor insustentável que nos esmaga a alma e de uma raiva que nos sufoca. Um tormento que tudo quer e tudo pode perante a vizinhança do abismo. Estive lá, perto, a um passo da queda. Caí! E agora estou aqui. 
Senti inveja daqueles que viviam tranquilamente. Imaginava-me a viver um futuro diferente do que me esperava mas que se assemelhava ao que, em tempos não muito longínquos, idealizara. Senti-me impotente, sem força para lutar perante tão vil tempestade. Invejei o sorriso nos lábios dos outros, a sensação de controle que me parecia terem dos seus destinos. Para muitos o futuro é fácil e previsível. Para mim o futuro era uma grande incógnita, um pano escuro que metia medo e não me permitia desvendar nada. Quase me sentia a andar às apalpadelas com receio de tropeçar. E tropecei! Tropecei e demorei a levantar-me. Anos, muitos anos. Perdi a auto-estima, esta andou pelas ruas da amargura... contentei-me com pouco. O que os outros pensavam nada me dizia. Deixei de acreditar em mim! Em mim! 
Como foi possível? Para além de me zangar com Deus, zanguei-me comigo mesma. A Ele, apontei o dedo e  acusei de fazer sofrer um inocente, a mim, acusei de ter permitido que tal acontecesse e, desde então, senti-me, de algum modo, culpada. A sério, Patrícia? Pois... O que mudou? Tudo e nada, ao mesmo tempo.
Fui descobrindo que tinha, em mim, todas as ferramentas necessárias para me sentir bem e ser melhor. Não precisava de aprender nada de novo, apenas viver e experimentar o que escrevia ou pensava. Não precisava de terapia como julgara pois podia atribuir um novo significado a situações que me assombravam. Não precisava de um milagre para o meu filho, como desejara, nele já se manifestara o milagre da vida. 
Preciso apenas de acreditar em mim, de acreditar nele. Não são palavras vãs. São a verdade e é o que ensino aos meus filhos todos os dias! Sei que não existem limites, que tudo podemos por amor, e quando vivenciamos a sua imensidão é impossível sentir solidão!





3 comentários:

  1. Lindo... amei...
    Continua a escrevinhar...please😘

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  2. Bem haja! Adorei o texto. Prova que é uma Mulher com letra grande .Transforma as adversidades em felicidade. Seja muito feliz!

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