sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O meu espírito de Natal


Estamos com o Natal à porta... nesta quadra sinto-me saudosa. Recordo-me da minha meninice, dos meus avós, da minha tia que partiu ainda jovem. O meu coração mirra, sinto-o bem apertadinho pelas saudades dos que já não estão comigo. Mas, se por um lado trago esta tristeza em mim, orgulho-me de tê-los tido na minha vida e de perpetuar a sua existência através de mim. 
Sou apaixonada pela vida e vivo-a intensamente. Vivo uma vida de afetos que preenchem os meus dias esteja onde estiver. Não saberia ser diferente e nem sequer tento. Não tenho medo de dar. Pelo contrário, sinto-me tão bem ao tentar "encontrar" o outro, descobrir o seu mundo e espalhar arco-íris!
As passadas semanas foram difíceis para mim. A frustração do meu filho, perante os resultados escolares que não traduzem o seu esforço por acompanhar um comboio que já partiu há muito, o seu medo das crises noturnas e a minha impotência para inverter os acontecimentos entristeceram-me ao ponto de me fechar no meu mundo. Senti-me só numa luta desigual, contra meio mundo, contra a inércia de toda uma sociedade que fomenta a competição, a desigualdade e cai no exagero, esquecendo-se da miséria humana que se torna nossa vizinha e, aos poucos, se apodera dos nossos corações. 
Foi assim que me senti, só, sem rumo e sem respostas. Foi assim que fui para a escola. Fui mais cedo e fiz o caminho embrenhada numa tristeza que me cortava o peito e sufocava a voz. Verdade, sou transparente. Cheguei e permaneci calada. As minhas colegas aperceberam-se e tentaram animar-me. Mal conseguia responder-lhes. Foi então que a T. disse algo como - "Precisas de um abraço, bem dado, coração com coração! - E eu pensei logo - "Não! Desmoronas já aqui!"- mas não fugi e juntaram-se a Té e a A. Na verdade estava a precisar de um abraço gigantesco! E, coração com coração, fui desarmada e chorei por mim e pelo meu filho nos braços de três colegas. 
Assim é o meu mundo, feito de afetos, sem embaraço em mostrar quem sou ou o que sinto. Sou grata pelo carinho que me dão e gosto de retribuir. Não fecho o meu mundo e sou atraída pelos mundos dos outros. Sou um sistema aberto e dinâmico que interage com quem me rodeia e coleciono, assim, preciosas experiências e recordações. 
Estou numa escola onde me sinto querida e com colegas a quem quero bem. Sou feliz. Tenho alunos que retratam a apatia generalizada pelo ensino mas tenho outros tantos que fazem com que sinta que vale a pena ser professora! E tenho os meus meninos especiais... O D. é um entre outros. Tem síndrome de Down e não queria ir para a sala de aulas. Assustei-me por não saber como lidar com ele mas agora, e com música pelo meio, somos amigos e entra nas minhas aulas com um grande sorriso estampado no rosto. Por alunos como o D. e o meu filho vale a pena ir à luta e superar obstáculos porque a escola é de todos e para todos! Vale a pena cair e erguer-nos de seguida, com aprendizagens feitas e vontade de melhorar redobrada! Vale a pena o embate com cabeças duras, tacanhas e preconceituosas! Vale a pena lutar por um mundo melhor onde a diferença é nossa semelhante!
É com este espírito e com esta vontade que vivo este Natal. A esperança num mundo melhor e onde sejamos verdadeiramente amigos, solidários e a força motriz para que verdadeiras mudanças possam ocorrer nas nossas vidas. Não receiem abrir os vossos corações! Vivam o verdadeiro espírito de Natal! E façam-me o favor de serem FELIZES!



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