quinta-feira, 11 de junho de 2015

A chamada



“Olá mãe, fala a técnica Ana Rita. Sabe quantas vezes tentei falar consigo?”. Se sabia!… “Consegue adivinhar por que razão estou a ligar-lhe?”. Estava confusa. A Dr.ª Manuela dissera-me que a cirurgia do Diogo iria realizar-se mas não seria para já, seria necessário mais algum exame? “E se eu lhe dissesse que o Diogo pode ser operado já na próxima segunda-feira?”. Entrei em estado de choque. Não esperava ouvir tal notícia, fiquei com as pernas bambas e comecei a gaguejar. A técnica Ana Rita, apercebendo-se do estado em que me deixara, pediu-me que me sentasse e eu, em piloto automático e antes que duvidasse de uma resposta afirmativa, respondi “Diga quando e nós lá estaremos”.
Sentei-me, peguei numa caneta e comecei a registar as indicações da técnica. Enquanto o fazia, sentia-me tonta, tremia e sentia um misto de felicidade e angústia a apoderar-se de mim. Chegara o dia por que tanto esperámos, o nosso filho ia finalmente ser operado. Os meus colegas assistiram perplexos e em silêncio. “Vai correr tudo bem, Patrícia, muita força!”. 
O meu cérebro começou a trabalhar a uma velocidade alucinante. Tinha de comunicar à direção que ia estar ausente, preparar tudo para que a Laurinha ficasse com os meus pais, preparar as nossas malas e tinha que comprar pijamas abertos à frente para o Diogo usar no hospital. Telefonei ao Filipe e dei-lhe a notícia.
No dia seguinte fui à escola mas já não dei aulas. Tinha de organizar a minha vida pois partiríamos à noite para Lisboa. Na quinta-feira, de manhã, reunimo-nos com a neurocirurgiã que iria operar o Diogo, a Dr.ª Clara Romero. Foi um encontro em que nos foi explicada a cirurgia e quais as possíveis sequelas que poderiam afetar o nosso filho. Este é o tipo de consulta que nos deixa profundamente silenciosos, sem palavras. A Dr.ª Clara fez o seu papel e colocou-nos perante todos os cenários possíveis, afinal, teríamos de dar o nosso consentimento e assinar um termo de responsabilidade. Apesar de tudo, senti uma grande confiança naquela que iria intervir no cérebro do nosso filho pois parecera-me uma profissional que colocava o bem-estar da criança em primeiro lugar. Na sexta-feira, depois da consulta de anestesia, decidimos voltar a casa. A Laurinha tinha apenas 9 meses e iriamos estar ausentes por algum tempo. Passámos o fim-de-semana em família. 
No domingo estava muito tensa, o meu cérebro não parava e o meu maior receio era que a cirurgia não corresse bem, deixando sequelas no Diogo. Pelo caminho, parámos numa estação de serviço para tomar um café e recebi uma chamada da Sílvia. Lembro-me de ter-lhe confidenciado “Nunca me perdoarei se acontecer algo de mal ao meu filho. Não sei o que faço” e irrompi num choro convulsivo. Fomos diretos ao hospital. Depois da consulta de internamento subimos ao segundo piso e acomodámo-nos. O Filipe ficaria em casa da Manuela, sogra do meu primo Nuno. 

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