“Olá mãe, fala a
técnica Ana Rita. Sabe quantas vezes tentei falar consigo?”. Se sabia!…
“Consegue adivinhar por que razão estou a ligar-lhe?”. Estava confusa. A Dr.ª
Manuela dissera-me que a cirurgia do Diogo iria realizar-se mas não seria para
já, seria necessário mais algum exame? “E se eu lhe dissesse que o Diogo pode
ser operado já na próxima segunda-feira?”. Entrei em estado de choque. Não
esperava ouvir tal notícia, fiquei com as pernas bambas e comecei a gaguejar. A
técnica Ana Rita, apercebendo-se do estado em que me deixara, pediu-me que me
sentasse e eu, em piloto automático e antes que duvidasse de uma resposta
afirmativa, respondi “Diga quando e nós lá estaremos”.
Sentei-me, peguei numa
caneta e comecei a registar as indicações da técnica. Enquanto o fazia,
sentia-me tonta, tremia e sentia um misto de felicidade e angústia a
apoderar-se de mim. Chegara o dia por que tanto esperámos, o nosso filho ia
finalmente ser operado. Os meus colegas assistiram perplexos e em silêncio.
“Vai correr tudo bem, Patrícia, muita força!”.
O meu cérebro começou a trabalhar a uma velocidade alucinante. Tinha de
comunicar à direção que ia estar ausente, preparar tudo para que a Laurinha
ficasse com os meus pais, preparar as nossas malas e tinha que comprar pijamas
abertos à frente para o Diogo usar no hospital. Telefonei ao Filipe e dei-lhe a
notícia.
No dia seguinte fui à escola mas já não dei aulas. Tinha de
organizar a minha vida pois partiríamos à noite para Lisboa. Na quinta-feira,
de manhã, reunimo-nos com a neurocirurgiã que iria operar o Diogo, a Dr.ª Clara
Romero. Foi um encontro em que nos foi explicada a cirurgia e quais as
possíveis sequelas que poderiam afetar o nosso filho. Este é o tipo de consulta
que nos deixa profundamente silenciosos, sem palavras. A Dr.ª Clara fez o seu
papel e colocou-nos perante todos os cenários possíveis, afinal, teríamos de
dar o nosso consentimento e assinar um termo de responsabilidade. Apesar de
tudo, senti uma grande confiança naquela que iria intervir no cérebro do nosso
filho pois parecera-me uma profissional que colocava o bem-estar da criança em
primeiro lugar. Na sexta-feira, depois da consulta de anestesia, decidimos
voltar a casa. A Laurinha tinha apenas 9 meses e iriamos estar ausentes por
algum tempo. Passámos o fim-de-semana em família.
No domingo estava muito tensa, o meu cérebro não parava e o
meu maior receio era que a cirurgia não corresse bem, deixando sequelas no
Diogo. Pelo caminho, parámos numa estação de serviço para tomar um café e
recebi uma chamada da Sílvia. Lembro-me de ter-lhe confidenciado “Nunca me
perdoarei se acontecer algo de mal ao meu filho. Não sei o que faço” e irrompi
num choro convulsivo. Fomos diretos ao hospital. Depois da consulta de
internamento subimos ao segundo piso e acomodámo-nos. O Filipe ficaria em casa
da Manuela, sogra do meu primo Nuno.
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