sábado, 6 de junho de 2015

Entrada na lista de cirurgia de epilepsia



Para se obterem bons resultados num vídeo EEG é necessário filmar o maior número de crises e que fiquem bem registadas. Para tal a medicação tinha de ser alterada, isto é, diminuir a quantidade de um dos antiepiléticos e o escolhido foi a lamotrigina. Vesti o pijama ao Diogo e a Técnica Ana Rita iniciou a tarefa de colar os imensos elétrodos na cabeça do nosso filho que, entretanto, jogava na sua PSP. Enquanto isso, eu arrumava as malas no armário e tornava o quarto um pouco mais nosso decorando-o com os brinquedos e tecnologia usada pela família.
As horas passaram e pouco podíamos fazer para além de entreter o Diogo, distraí-lo, pois encontrava-se preso a uma série de fios que comunicavam com um aparelho, numa sala adjacente, que registava as suas ondas cerebrais. Neste mesmo aparelho via-se a imagem da criança, sendo possível observar como ocorriam as crises, obtida por meio de câmaras instaladas no quarto.
À noite ficava com o Diogo enquanto o Filipe pernoitava num hotel. Quando me apercebi que o João Pestana se aproximava, acomodei o meu filho e fiquei alerta. Sabia que iria ter uma crise ao adormecer pois era o seu ritual quase diário. Poucos minutos depois, dava um salto do cadeirão em que me instalara, destapava o corpo do Diogo e carregava num botão onde assinalava a ocorrência da crise. E assim foi durante duas noites. O número de crises registadas era o suficiente para dar início ao seu estudo e na quarta-feira teve alta. Antes de regressarmos, perguntei ao Dr. José Carlos Ferreira se consideraria o Diogo um caso de cirurgia e a resposta foi positiva. Foi o início de mais uma etapa.
Iniciáramos uma longa caminhada e os acontecimentos precipitavam-se. Estávamos em agosto de 2011 e, em pleno feriado, fomos para Vila Praia de Âncora onde gozámos 15 dias de paz e sossego. Mal chegámos, iniciámos o frenesim de desfazer os sacos, arrumar as roupas e montar tudo aquilo que distraía as crianças. Estava a colocar a mercearia nos armários da cozinha quando toca o meu telemóvel… era a Técnica Ana Rita. “Olá mãe. O Diogo tem uma RM funcional marcada para dia 19 de setembro.” Depois de confirmar que lá estaríamos, explicou-me que o Diogo deveria ficar em jejum cerca de 6 horas antes do exame, não podia estar constipado e indicou-nos onde seria realizado o exame. Depois de apontar todas as indicações, desliguei e avisei o meu marido. 
As férias passaram a correr. As idas à praia eram muito cansativas. Imaginem duas crianças que adoram água, cada uma a correr para o seu lado. Um de nós tinha que estar sempre com o Diogo, pois estar sozinho na água era algo determinantemente proibido, e o outro tinha que controlar a Laurinha pois a mafarrica atirava-se de cabeça para a água e tinha apenas ano e meio. À hora de almoço íamos até casa, bastava atravessar a estrada, dávamos um duche às crianças e fazíamos uma refeição rápida. Seguia-se a hora da sesta. O Diogo ia até ao quarto com a avó e a Laurinha aterrava no sofá da sala depois de fazer a habitual birrinha de sono. Aproveitávamos todos para descansar um pouco, os dias eram desgastantes pois tínhamos dois elétricos em casa. Quando as tropas despertavam, tomava-se o lanche e voltávamos à praia para um belo fim de tarde entre construções na areia e umas braçadas na água. Depois do jantar caminhávamos até ao largo da igreja, sentávamos numa esplanada onde tomávamos um café e assistíamos a um espetáculo, geralmente de música. E todos os dias repetíamos esta rotina.
As férias terminaram e começou mais um ano letivo na escola. Entre reuniões de departamento e de secção, que se sucediam, delineavam-se as planificações, os critérios específicos de avaliação dos alunos e conheciam-se os semanários-horários. Eu continuava a constituir a equipa técnico-pedagógica do Centro Novas Oportunidades da escola, lecionaria Gestão e Organização dos Serviços e Cuidados de Saúde a uma turma do curso profissional Técnico Auxiliar de Saúde do 10º ano de escolaridade, acumulando os cargos de diretora de turma e diretora de curso da mesma turma, e lecionaria Ciências Naturais a três turmas do 8º ano. Trabalho não me faltaria, é certo.
Fomos para Lisboa no dia 18, véspera da realização da RM funcional, com o intuito de ser uma viagem com uma programação especial para o nosso filho. Não desejávamos que estas viagens se tornassem meras idas ao hospital, queríamos que o Diogo visse algo diferente em cada uma delas. O Filipe programou uma ida ao Jardim Zoológico e só depois rumaríamos até Caselas. Foi um dia bem passado. O Diogo andou de comboio, pouco ou nada interessado nos animais. Assistimos a um espetáculo de golfinhos e andámos de teleférico. Penso que foi a distração mais divertida para o nosso filhote pois ria-se da mãe que petrificara devido ao medo às alturas e só dizia disparates. 
Ao fim da tarde fez a RM. Estiveram presentes mais dois elementos da equipa multidisciplinar que acompanhava o Diogo: o Dr. Alberto e o Dr. Ricardo Lopes do hospital Júlio de Matos. Ansiosos pelos resultados, esperámos mais de uma hora. No fim, o Dr. Alberto aproximou-se de nós e confirmou a visualização e localização da displasia assegurando que a zona da visão estaria muito perto mas talvez não ficasse afetada. No dia seguinte voltaríamos a encontrar os dois profissionais, desta vez para uma avaliação de desempenho que confirmaria o que já sabíamos.
De regresso a Fafe e de regresso às nossas rotinas diárias. As aulas começaram e sabíamos que o nome do nosso filho constava na lista de cirurgia de epilepsia. Sabíamos também que era uma longa lista de anónimos que já tinham passado pelos mesmos procedimentos e que seria dada prioridade aos casos mais complicados. 

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