quarta-feira, 3 de junho de 2015

Aprendizagem



Passaram três meses… e ligaram-me do hospital S. Francisco Xavier. “Bom dia, mãe. Fala a Técnica Ana Rita do Hospital S. Francisco Xavier. Estou a ligar-lhe para saber se pode deslocar-se com o Diogo a Lisboa, na próxima semana, para a realização de um vídeo EEG. Sabe em que consiste este exame?”. Fiquei em estado de choque! Não esperava que o Diogo fosse chamado tão rapidamente… e sim, sabia tudo sobre o exame, a Dr.ª Manuela já me esclarecera e eu já pesquisara. Nessa semana tinha imenso serviço na escola entre sessões de júri de certificação do processo de RVCC e relatório de direção de turma e de avaliação de desempenho para entregar. Por isso respondi que não era a melhor altura pois estava assoberbada de trabalho. “Não poderá ser na semana seguinte?”. Depois de desligar, insultei-me “Mas estarás louca, Patrícia? Estás há tanto tempo à espera que isto aconteça e dizes que não te dá jeito?” Como me dirigia para a escola, falei com a diretora do agrupamento que me sossegou e disse “Primeiro a saúde do teu filho. Por cá tentaremos e encontraremos certamente uma solução.” Liguei, ainda em estado de choque, para o número que ficara registado no telemóvel mas nada! Fiz várias tentativas e nada! Foi então que resolvi ligar à Dr.ª Manuela. Expliquei como tudo acontecera, como me arrependera imediatamente da minha resposta e pedi se seria possível entrar em contacto com a Técnica Ana Rita. A Dr.ª Manuela riu da minha reação assegurando que era normal pois fora apanhada de surpresa e assim fez o contacto. Passado cerca de 10 minutos voltou a ligar-me. A vez do Diogo passara… já estava marcada outra criança, mas voltariam a ligar-me brevemente. Aprendi instantaneamente que, quando nos chamam, temos que dizer sim e fazer as malas imediatamente. Não voltei a repetir o mesmo erro.
Na semana seguinte andei sempre com o telemóvel no bolso e voltaram a ligar-me, era a Técnica Ana Rita. “Olá mãe! É a Técnica Ana Rita. A Dr.ª Manuela ligou-nos a contar o que se passara mas já tínhamos outro menino. Mas pode ser para a semana?”. “Claro que pode, o que temos de fazer?”.
Na segunda-feira apresentámo-nos pelas 8.30 nas consultas externas de Pediatria, para a realização do vídeo EEG.
Depois do preenchimento de papéis subimos ao segundo piso. Entrámos na pediatria e encaminharam-nos até ao quarto onde se realizaria o vídeo EEG. Era um quarto grande e muito claro, com paredes adornadas de faixas coloridas do teto ao chão. Não era um quarto frio. Tinha uma janela grande, em toda a sua extensão, com uma vista bonita para o rio Tejo, na qual se podia vislumbrar Belém e o mar. Dizia a Técnica Ana Rita “Não há quarto com melhor vista!”.
Pouco depois recebemos a comitiva de boas vindas… um grupo formado por vários elementos da equipa multidisciplinar que estudaria o caso do nosso filho. Entre eles reconheci imediatamente os dois neuropediatras. Apresentaram-se e começou o interrogatório ao qual respondemos sem dificuldades. Mais uma vez contámos a história da epilepsia do Diogo, descrevemos as crises, os seus comportamentos, as suas dificuldades e os apoios que tinha para as trabalhar e tentar ultrapassar. Finalizámos com a medicação que tomava. Questionaram-nos também sobre a frequência das crises e respondemos que podiam passar 2-3 dias sem crises mas seguiam-se outros 3-4 dias com crises durante o sono. Não passava uma semana em que não as fizesse. Avisaram-nos, então, que reduziriam a medicação pois não podiam arriscar que o Diogo não colaborasse. “Podem estar tranquilos… o nosso filho não é tímido.” 

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