Passaram três meses… e
ligaram-me do hospital S. Francisco Xavier. “Bom dia, mãe. Fala a Técnica Ana
Rita do Hospital S. Francisco Xavier. Estou a ligar-lhe para saber se pode
deslocar-se com o Diogo a Lisboa, na próxima semana, para a realização de um
vídeo EEG. Sabe em que consiste este exame?”. Fiquei em estado de choque! Não
esperava que o Diogo fosse chamado tão rapidamente… e sim, sabia tudo sobre o
exame, a Dr.ª Manuela já me esclarecera e eu já pesquisara. Nessa semana tinha
imenso serviço na escola entre sessões de júri de certificação do processo de
RVCC e relatório de direção de turma e de avaliação de desempenho para
entregar. Por isso respondi que não era a melhor altura pois estava assoberbada
de trabalho. “Não poderá ser na semana seguinte?”. Depois de desligar,
insultei-me “Mas estarás louca, Patrícia? Estás há tanto tempo à espera que
isto aconteça e dizes que não te dá jeito?” Como me dirigia para a escola,
falei com a diretora do agrupamento que me sossegou e disse “Primeiro a saúde
do teu filho. Por cá tentaremos e encontraremos certamente uma solução.”
Liguei, ainda em estado de choque, para o número que ficara registado no
telemóvel mas nada! Fiz várias tentativas e nada! Foi então que resolvi ligar à
Dr.ª Manuela. Expliquei como tudo acontecera, como me arrependera imediatamente
da minha resposta e pedi se seria possível entrar em contacto com a Técnica Ana
Rita. A Dr.ª Manuela riu da minha reação assegurando que era normal pois fora
apanhada de surpresa e assim fez o contacto. Passado cerca de 10 minutos voltou
a ligar-me. A vez do Diogo passara… já estava marcada outra criança, mas
voltariam a ligar-me brevemente. Aprendi instantaneamente que, quando nos
chamam, temos que dizer sim e fazer as malas imediatamente. Não voltei a
repetir o mesmo erro.
Na semana seguinte
andei sempre com o telemóvel no bolso e voltaram a ligar-me, era a Técnica Ana
Rita. “Olá mãe! É a Técnica Ana Rita. A Dr.ª Manuela ligou-nos a contar o que
se passara mas já tínhamos outro menino. Mas pode ser para a semana?”. “Claro
que pode, o que temos de fazer?”.
Na segunda-feira
apresentámo-nos pelas 8.30 nas consultas externas de Pediatria, para a
realização do vídeo EEG.
Depois do
preenchimento de papéis subimos ao segundo piso. Entrámos na pediatria e
encaminharam-nos até ao quarto onde se realizaria o vídeo EEG. Era um quarto
grande e muito claro, com paredes adornadas de faixas coloridas do teto ao
chão. Não era um quarto frio. Tinha uma janela grande, em toda a sua extensão,
com uma vista bonita para o rio Tejo, na qual se podia vislumbrar Belém e o
mar. Dizia a Técnica Ana Rita “Não há quarto com melhor vista!”.
Pouco depois recebemos a comitiva de boas vindas… um grupo
formado por vários elementos da equipa multidisciplinar que estudaria o caso do
nosso filho. Entre eles reconheci imediatamente os dois neuropediatras.
Apresentaram-se e começou o interrogatório ao qual respondemos sem
dificuldades. Mais uma vez contámos a história da epilepsia do Diogo,
descrevemos as crises, os seus comportamentos, as suas dificuldades e os apoios
que tinha para as trabalhar e tentar ultrapassar. Finalizámos com a medicação
que tomava. Questionaram-nos também sobre a frequência das crises e respondemos
que podiam passar 2-3 dias sem crises mas seguiam-se outros 3-4 dias com crises
durante o sono. Não passava uma semana em que não as fizesse. Avisaram-nos,
então, que reduziriam a medicação pois não podiam arriscar que o Diogo não
colaborasse. “Podem estar tranquilos… o nosso filho não é tímido.”
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