domingo, 25 de outubro de 2015

12 de setembro de 2013


Chegara o grande dia...
Mais do que habituada ao ritual de preparação do meu filho para as idas a bloco operatório, encontrava-me serena e confiante nos resultados desta intervenção. Na noite anterior deram-me respostas que me facilitaram uma melhor compreensão sobre a epilepsia do meu filho e, apesar de ser algo que o acompanharia para toda a vida, os seus efeitos podiam ser minimizados, possibilitando-lhe uma melhor qualidade de vida. Eu depositava toda a minha esperança na remoção do foco epitalogénico e, consequentemente, na redução drástica do número de crises que tinha. Poderá parecer pouco para alguns mas, para mim, significava dar paz e sossego ao Diogo, possibilitar-lhe uma melhor aquisição de competências e dotá-lo de capacidades que permitiriam um melhor desempenho a nível social.
Nessa manhã, bem cedo e antes de se preparar para a intervenção cirúrgica, recebi a visita da Dr.ª Clara que me quis explicar todo o procedimento e como o iria realizar - "Mãe, posso dizer-lhe que conheço de cor o cérebro do seu filho. Passei a noite a estudar o melhor modo de aceder ao foco e removê-lo sem causar danos ao nosso Diogo.". Segundo o que percebi, a Dr.ª Clara acederia à zona ativa da displasia seguindo um sulco - que limitava a circunvolução cerebral afetada - tendo acesso ao foco sem ter de cortar ligações neurológicas. Depois de terminar a explicação, sorri para a Dr.ª Clara e disse-lhe apenas "Vai correr tudo bem!" e voltei para o quarto.
Mais uma longa espera aguardava por nós. Decidimos sair do hospital e apanhar ar fresco na zona de Belém. Caminhámos, falámos e decidimos regressar. Recebemos imensas mensagens de conforto e esperança de familiares, amigos e das educadoras do Diogo. Fomos enviando mensagens para sossegar os corações daqueles que partilhavam connosco a espera tortuosa. Por volta das 15 horas, abriu-se a porta do bloco e apareceu a Dr.ª Clara - "Correu tudo bem. Removi o que pude, sem intervir na zona motora. O Diogo está bem.". Naquele momento senti que, pela segunda vez, o bem estar do meu filho tinha sido prioritário.
O protocolo foi cumprido como na primeira cirurgia... isolamento seguido de cuidados intensivos e, finalmente, enfermaria. As primeiras noites foram de ansiedade. Se fizesse crises, como depois da primeira cirurgia, os resultados não corresponderiam ao desejado. O Dr. Pedro Cabral passava pelo quarto todos os dias, mais do que uma vez, pois também ansiava pela ausência de crises. Estávamos todos ansiosos e os dias passavam sem crises. Na semana seguinte deram alta ao meu filho mas teríamos de ficar por perto. Passámos esses dias em casa da Manuela, sogra do meu primo Nuno, em Massamá. Aproveitámos para passear com o Diogo. Na manhã de quinta feira, uma semana após a remoção do foco, o meu mundo desabou mais uma vez - o Diogo despertou com uma crise. Senti-me a perder o chão, senti-me verdadeiramente infeliz, senti-me novamente revoltada com Deus - "Porquê?".  
Depois de me compor, contei ao Filipe o sucedido. Podia significar muito mas também podia não significar o que receava pois sabíamos que o simples facto de se mexer no cérebro podia desencadear crises por este estar a reajustar-se. Mais tarde recebi um telefonema da N. que me perguntou se estava tudo bem. Ela sabia que algo iria mexer comigo, apenas se enganou em termos temporais - "Não desanimes. Mantém-te confiante."
Na semana em que o meu filho foi operado, iniciou-se o ano letivo e o rapaz só pensava em ir para a escola. Regressámos a casa sem grandes certezas. Os próximos meses ditariam os resultados.



Deixo um vídeo sobre cirurgia de epilepsia mas não recomendo a visualização a pessoas sensíveis.





Sem comentários:

Enviar um comentário