terça-feira, 20 de outubro de 2015

Marcação e adiamento da cirurgia


O número que apareceu no meu telemóvel, quando este tocou, não me era desconhecido e fiquei logo transtornada. Atendi e aquilo por que esperava há mais de um ano concretizava-se. O Diogo tinha as cirurgias marcadas para os dias 20 e 23 de maio. Confirmei a nossa presença na consulta de anestesia e despedi-me. Logo de seguida, liguei ao meu marido para dar a notícia e dirigi-me à escola para avisar que estaria ausente. Encontrei a Cristina e contei-lhe o sucedido.
Depois dos preparativos para a viagem, fiz um telefonema para marcar uma sessão de cura reconectiva para mim. O meu desgaste físico e psicológico, causado por uma espera angustiante, tirara-me as forças para mais um embate e reconhecia que precisava de ajuda. A minha tia Ilda foi comigo pois eu não sabia se conseguiria fazer a viagem de regresso sozinha. Os meus filhos ficaram em casa dos avós e o Filipe tinha um jantar do pessoal do futebol. Tudo se combinara para que eu pudesse ter o meu momento.
Deitada na marquesa, comecei por sentir as pálpebras a tremerem, os meus olhos tinham vontade própria e pareciam querer abrir-se, tal era a quantidade de energia que por eles circulava. Seguiu-se um peso no meu peito. Sentia toneladas em cima dele e doía-me a respirar. Fui invadida por um sentimento de angústia e parecia estar a ser esmagada ali, naquela marquesa, naquele momento. Por fim, algo se passou na minha cabeça que não consigo descrever senão recorrendo à imagem do movimento da água a sair de uma mangueira. Do mesmo modo, algo era sugado pela minha cabeça e depois parou. Chamaram pelo meu nome e abri os olhos.
No regresso, contei à minha tia o que experimentara e não disse mais nada. Eu estava calma, demasiado calma, como se me encontrasse num qualquer estado latente. No dia seguinte acordei completamente diferente. Tinha vontade de cantar e ouvir música, falava alto e questionava-me sobre o que estava a sentir. O meu estado era de euforia e parecia uma adolescente apaixonada, sempre com um sorriso nos lábios e com o coração agitado, mas saudavelmente agitado. Lembro-me de pensar que era injusto eu sentir-me tão bem enquanto o Filipe se sentia angustiado e, para acalmá-lo, dizia-lhe apenas "Vai correr tudo bem!". Telefonei à N., a terapeuta que me fizera a sessão, para perguntar se tal seria normal acontecer e a resposta dada foi "Esse é o teu estado normal, algo que já não sentias há muito tempo. Tu és assim, não te preocupes. Vai correr tudo bem!".
O Diogo foi internado no dia seguinte, domingo, e tinha uma infeção num dente que, segundo nos informaram na consulta de anestesia, não seria impeditivo para a realização da cirurgia. No domingo, à noite, recebemos a visita da neurocirurgiã que, mais uma vez, nos alertou para as possíveis sequelas desta cirurgia e assegurou que não haveria problema relacionado com o dente. Despedimo-nos até o dia seguinte. Fiquei com o meu filho e fui recebendo chamadas da família e amigos. Estava muito calma, tão calma que dormi durante a noite mas com a forte sensação de que o meu filho não iria ser operado.
Na manhã seguinte, acordei para o ritual de preparação para a cirurgia: dei o antibiótico e a medicação ao Diogo. seguiu-se um banho e desinfeção de todo o corpo e vesti-lhe o pijama para o bloco. O meu marido chegou para ficar com o Diogo enquanto eu tomava um banho rápido. Mas o banho rápido foi muito tranquilo - não tive pressa - pois continuava com o pressentimento de que a cirurgia não se realizaria. Quando saí, deparei-me com o Filipe a falar com a neurocirurgiã - "Mãe, pensei muito durante a noite e decidi adiar a cirurgia. A infeção no dente pode potenciar outros riscos e o Diogo não pode correr riscos para além daqueles que já correrá.". Eu já sabia que tal iria acontecer, pressentira algo durante a noite.
Regressámos a casa... o Diogo teria de ir a bloco, no hospital Santo António, para remoção do dente. No espaço de uma semana marcou-se a dita remoção e demos luz verde à equipa de Lisboa para marcar novas datas. 

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