Vivi a minha primeira
gravidez, dia a dia, intensamente. Apercebia-me de cada pequena transformação
do organismo. Não sofri de náuseas ou vómitos, tive uma gravidez calma e
vigiada até ao termo. Criei muito cedo laços com aquela vida que se desenvolvia
dentro de mim, falava-lhe, acariciava a barriga, na esperança de que me
sentisse, cantava-lhe… Por volta das 12 semanas tive a notícia de que ia ter um
menino e emocionei-me pois era o meu desejo mais intimo.
O tempo passava, a
minha barriga crescia e eu imaginava o pequeno ser que trazia dentro de mim.
São momentos divinais os que nós, mulheres, temos o privilégio de viver. Cada
ida à ginecologista era uma aventura indescritível. Vivia com ansiedade as
horas que antecediam o momento em que poderia ver o meu bebé na ecografia já que
apenas o sentia. E como gostava de senti-lo! Era muito ativo e dava fortes
pontapés, de tal forma que durante algumas aulas era interrompida pelos meus
alunos “Professora, a sua barriga anda aos trambolhões” ou “Professora, a sua
barriga está torta!”. Eu sorria e aproveitava a deixa… “Pois, o bebé está a
queixar-se do vosso barulho. Vamos acalmar um bocadinho?”.
Esse ano foi muito
quente e eu sofri com o calor. Os meus tornozelos incharam e pareciam troncos
de árvore, as minhas costas doíam. Uma das minhas amigas de sempre casava-se a
22 de julho e os preparativos foram deixados para o fim pois não sabia se
poderia estar presente. Entretanto fui novamente à ginecologista que me fez um
CTG e assegurou que ainda não tinha contrações. Na véspera do casamento da Rita
disse-lhe que podia contar comigo.
A manhã desse dia
estava muito bonita. Fui arranjar o cabelo e acabei por comprar o meu perfume
preferido. Andava tranquilamente pelas ruas da cidade e apreciava o azul do
céu, as temperaturas amenas e cada som que ouvia. Parecia extasiada com tudo o
que me rodeava e deleitava-me com aqueles momentos em que podia cuidar de mim.
Quando cheguei a casa apercebi-me que a sensação que tivera durante a manhã, de
um corrimento que não era normal, era uma realidade. Aconselharam-me a ida ao
hospital “Por via das dúvidas leva a mala no carro”. Os acontecimentos que se
sucederam foram hilariantes.
Pelas 16 horas dei
entrada nas urgências do hospital. Agora imaginem o estado em que o fiz… cabelo
bem penteado, muito bem pintadinha, unhas arranjadas e deliciosamente cheirosa,
o resto destoava… calças de fato de treino, t-shirt e chinelinhos de meter o
dedo. O enfermeiro da triagem, após a recolha dos sintomas, olhou para mim com
ar gozão e perguntou-me “A senhora sabe para onde vai?”. É óbvio que eu sabia.
Esperava ir para um casamento e não para as urgências de um hospital! Enfim,
auxiliares, enfermeiras e médicos questionavam-me sobre a aparência e todos se
riam da minha resposta. Não os censuro pois eu também me ria silenciosamente de
toda aquela situação.
Fui observada e a
médica sentenciou-me “Hoje não vai a lado nenhum. Tem uma rutura de membranas e
vai ficar em observação”. A minha mãe esteve sempre comigo mas ausentou-se para
pedir ao genro a mala com a roupa. Na manhã seguinte provocaram o parto.
No dia
23 de julho de 2006, com 37 semanas de gestação, nasceu o meu menino, saudável
e muito dorminhoco. E eu estava muito feliz pois tinha-o finalmente nos meus braços.
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