quinta-feira, 7 de maio de 2015

O Sinal


A minha avó faleceu pouco depois do nascimento do meu filho.
Muitas vezes me confidenciava que somente aguardava pela chamada de Deus - sentia que o seu papel na Terra estava cumprido - e tinha muitas saudades do meu avô. Eram um casal com uma presença muito forte, extremos que se completavam, nem sempre pacificamente.
Ambos possuíam corações bondosos e justos mas o meu avô Armando era muito terno enquanto a avó Aida era mais rígida. E foi com essa expressão rígida que me apareceu num sonho…
Não me recordo de sonhar com ela, apenas daquela vez, já ela nos tinha deixado. Lembro-me como tivesse sido hoje. Era noite e fui a casa da minha avó fazer algo, o quê não importa. O que me marcou foi a saída pois desligava as luzes, batia a porta, dirigia-me para o carro e via as luzes acesas no interior. Voltava a entrar, a desligar as luzes e quando saía estas continuavam acesas. A determinada altura, dirijo-me à sala de jantar e deparo-me com um quadro arrepiante: à volta da mesa encontravam-se vultos sentados, cujas caras não distinguia nem seria importante fazê-lo, e à cabeceira da mesa, de pé e semblante pesado, encontrava-se a minha avó. Fiquei muito impressionada com a sua expressão… e senti que me avisava de que algo iria acontecer. Não seria algo bom dado o semblante pesado da avo mas, simultaneamente, transmitia-me que assumiria o controlo, estaria vigilante e eu não estaria só.
Acordei com uma sensação de aperto no peito. Senti-me insegura. Tentava rever os pormenores do sonho, procurava respostas no que sentira mas o que prevalecia era aquela expressão. O dia correu dentro da normalidade prevista, as rotinas diárias de uma professora contratada, esposa e mãe de uma criança de um ano. Levei o Diogo ao infantário e fui para a escola. Sem componente letiva no período da tarde, regressei a casa e adiantei trabalho. A certa altura fiz uma pausa, sentei-me nas escadas do jardim e acendi um cigarro. Lembrei-me da minha avó… e aquela sensação, de que algo desagradável estaria para acontecer, apoderou-se novamente de mim. Questionei-me se me quereria transmitir realmente algo... e recordo-me de pensar que, um dia mais tarde, lembrar-me-ia de ter fumado aquele cigarro.









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