segunda-feira, 4 de maio de 2015

Palavra de ordem: (Des)formatar II



Assim começou um longo e penoso processo de consciencialização de que o meu filho sofrera uma sequela para a qual eu não estava minimamente preparada e que condicionaria o seu futuro.
Ao longo do primeiro período, o Diogo manifestou uma grande dificuldade em concentrar-se nas tarefas propostas e não conseguia juntar os sons. Imaginem como se sentem a tentar ler um texto em russo ou chinês. Falo por mim... até posso identificar caracteres iguais mas não lhes consigo atribuir um som e muito menos juntar sons. Foi o primeiro embate com a realidade e aqui surge o primeiro erro de formatação... e a necessidade de desformatação!
O Diogo não terá um percurso escolar dentro da normalidade. Mas o que é normal nos nossos dias? É normal as crianças, cada vez mais precocemente, serem cobaias de programas extensos e desadequados à sua maturidade. É normal as crianças terem dificuldade em distinguir o bem do mal porque ninguém se empenhou em ensiná-lo pois a maior preocupação é protegê-las do mundo. É normal as crianças não assumirem que são crianças pois é-lhes exigido que, cada vez mais cedo, definam o seu futuro. 
Pois o meu filho, nesta perspetiva, não é uma criança normal, nem os pais dele! A nossa principal preocupação é que o Diogo seja uma criança feliz. Para ele não existe um calendário nem um cronómetro. As suas aprendizagens vão sendo adquiridas ao ritmo dele e estas baseiam-se muito nas suas vivências. O seu horizonte não tem fim e será percorrido ao sabor do vento. Gosto que o meu filho aprecie as pequenas coisas da vida, não lhe imprimo stress para andar a um ritmo diferente do seu. Ele sabe que o importante é fazer bem feito, não interessa se foi o último a acabar ou se sequer terminou. Se não for à primeira poderá ser à segunda, à terceira, seja quando for mas será ele a conquistar essa vitória e a juntá-la ao role de conquistas por ele feitas. Não exijo notas ao meu filho, apenas exijo que dê o seu melhor e se o seu melhor não corresponder aos parâmetros normais “temos pena!”.
O papel dos pais não é conceber um filho à sua imagem nem predestiná-lo a algo que gostariam de ter sido e não concretizaram. O papel dos pais é preparar os filhos para a vida, capacitá-los para lidarem com as frustrações, ajudá-los a conquistar uma identidade própria e, sobretudo, a aprenderem a serem pessoas felizes. Os pais não devem fazer as conquistas pelos filhos mas sim ensiná-los a conquistar. É doloroso assistir às suas desilusões mas daí advém a sua resistência, a sua formação como indivíduos capazes de ultrapassar obstáculos. O meu coração dói quando vejo que o meu filho não consegue fazer algo mas estarei a ajudá-lo se o fizer por ele? Estarei a dar-lhe confiança ou estarei a reduzi-lo a algo que luto para que não seja?

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