domingo, 3 de maio de 2015

Palavra de ordem: (Des)formatar


É impressionante como aos 41 anos me sinto tão formatada! Sou fruto de um sistema de ensino que tem formatado o nosso pensamento e que, com o passar do tempo, tem vindo a piorar. A minha grande tristeza é que também tenho contribuído para tal, como professora. O meu despertar começou graças ao meu filho e às suas necessidades educativas especiais. 
O Diogo nasceu com uma displasia cortical - tipo I. Por outras palavras, possui um conjunto de células no cérebro que, devido a uma mutação, não se diferenciaram em neurónios e fazem descargas elétricas anómalas que se traduzem numa epilepsia de difícil controlo, isto é, uma epilepsia refractária. Foi devidamente acompanhado e aos 4 anos já estava sinalizado nos Serviços de Intervenção Precoce. Desde tenra idade, teve terapia ocupacional de modo a conseguir ultrapassar as dificuldades que possuía ao nível da motricidade e que seriam um sério obstáculo quando ingressasse no 1º ciclo de escolaridade. Até aqui tudo bem... 
Foi submetido a uma primeira cirurgia de epilepsia, tinha 5 anos, mas continuou refractário. A única diferença foi notória ao nível social pois abriu-se mais ao exterior. Com 7 anos, mesmo antes de ingressar na escola primária, foi submetido a uma segunda cirurgia. O quadro era negro para ambas mas o da segunda cirurgia era terrível! Mesmo assim, demos o nosso consentimento e esperámos o melhor. A cirurgia correu muito bem mas, apesar de reduzir muito o número de crises, continuou refractário. 
Foi para a escola e integrou-se sem problemas, estes manifestar-se-iam mas seriam de outra natureza: o Diogo perdera a consciência fonológica. Identificava as letras mas era incapaz de juntar os sons. Começou então o meu penoso processo de desformatação!...


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