Os primeiros meses
foram muito complicados pois o Diogo sofria muito com cólicas. Não me lembro de
o ouvir chorar como bebé, gritava ao ponto de ficar rouco. Nós, pais pela
primeira vez e completamente inexperientes, andávamos desnorteados. Familiares
e amigos vinham conhecer o nosso rebento, pouco tempo ficavam mas era sempre o tempo
suficiente para ouvirmos “Coitadinho de quem é pequenino e não se sabe queixar!...”
e darem sugestões para o acalmar “Faz isto, faz aquilo!...”. Doidos! Foram
tempos de enlouquecer, todos opinavam mas ninguém acertava. No dia em que fez
três meses, o pesadelo pareceu chegar ao fim pois sossegou e de tal modo que
eu, totalmente incrédula, estava sempre a observá-lo, a ver se respirava.
Inacreditável! Passara do 8 para o 80. Seguiram-se tempos relativamente
tranquilos e finalmente podíamos gozar o nosso filhote.
Aos 14 meses foi para
o infantário da Santa Casa da Misericórdia. A fase de adaptação foi um pouco
complicada pois todas as manhãs o deixava a chorar. Agarrava-se ao meu pescoço
e não me queria soltar, quase me arrancava a roupa do corpo e sentia, todos os
dias, que perdia um bocadinho de mim. Eu fazia a minha vida normal e pacata
entre a escola e os momentos de contemplação e descoberta diária do meu filho.
É tão boa a sensação de que tudo decorre dentro da normalidade… pena é só lhe
darmos o devido valor quando a perdemos.
Viria mais tarde a
lembrar-me de um cigarro que fumara no jardim e de uma terrível sensação que me
acompanhara, um aviso. Existem situações inexplicáveis mas, coincidências ou
não, tornaram-se uma realidade muito dura de enfrentar. O meu filho debatia-se
com uma epilepsia muito difícil de controlar.
Quando se é mãe pela
primeira vez idealizamos uma vida feliz para as nossas crias. Sonhamos com um
amanhã solarengo… e este foi-me usurpado repentinamente e de um modo brutal.
Todos os meus sonhos foram trancados a sete chaves no recôndito do meu ser.
Alienei-me desses mas substitui-os por novos, cujo denominador comum foi e será
sempre a felicidade do meu Diogo.
Durante a gravidez li
todos os livrinhos sobre maternidade e afins, autênticos manuais de instruções…
mas o que fazer quando os nossos filhos não são descritos nos livros? Sempre
considerei difícil o papel desempenhado pelos pais e sempre me asseguraram que
o vestiria por puro instinto. E é verdade! Assim foi.
O Diogo é uma criança especial.
Todos os que trabalham com ele, todos os que o acompanharam e acompanham no seu
desenvolvimento, enfim, todos os que o rodeiam, são conquistados e nutrem por
ele sentimentos de ternura inexplicáveis. O Diogo é uma criança que não tem
maldade no seu coração tornando-se, por isso, docilmente ingénuo. Não suporta
ver os outros tristes, detesta injustiças mas é capaz de aceitar a culpa para
não prejudicar outros. O meu filho faz o meu coração transbordar de alegria,
fez-me aprender que a vida é muito mais do que aquilo que eu idealizava. Hoje
sou capaz de apreciar a simplicidade daquilo que me rodeia. Até vislumbrar um
simples arco-íris me faz sentir melhor. O meu filho ligou-me à vida, ao que ela
tem de mais precioso. Quando respiro, dou graças por poder fazê-lo. E agora
pergunto-me “como é possível não amar tanto uma criança?”. O meu filho tem uma epilepsia
difícil provocada por uma displasia e depois? Vou descartá-lo como se de um
brinquedo defeituoso se tratasse? E não se escandalizem com a frieza da
expressão pois vi quem o fizesse… Não! Amo-o ainda mais, com toda a minha
vontade, com todo o meu ser!
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